COMO VIVIA UM PAULISTA PRÉ-HISTÓRICO (comentado)

Estudo revela hábitos de Luzio, caçador que viveu há 10 mil anos; sua ossada, encontrada no Vale do Ribeira, é a mais antiga do Estado

 

O paulista mais antigo de que se tem notícia viveu há 10 mil anos no Vale do Ribeira. Caçava animais de pequeno e médio porte, como preás, cotias e porcos-do-mato. Devia enriquecer sua dieta com tubérculos e frutos. Caminhava sobre riachos, mas não gostava de comer peixe.

Ossada mostra que Luzio foi enterrado com as pernas flexionadas, como se estivesse sentado

Um estudo divulgado na semana passada analisa a composição química dos seus ossos e lança luz sobre os hábitos alimentares de Luzio – como foi batizado pelos cientistas. O trabalho também discute a misteriosa origem do paulista pré-histórico.

Ele não se parecia com índios contemporâneos, que exibem traços fisionômicos do oriente asiático. Lembrava mais aborígenes da Melanésia, na Oceania, ou negros da África subsaariana.

Pertenceu a uma colonização ancestral do continente que tem como representante mais ilustre Luzia, a “primeira americana”, esqueleto mineiro de 11 mil anos que inspirou o nome do achado paulista e tem características morfológicas semelhantes.

Vestígios de paleoamericanos, como são conhecidos, normalmente são encontrados no interior do continente. No Brasil, foram achados no Planalto Central – em Lagoa Santa, a 40 quilômetros de Belo Horizonte, terra de Luzia – e no sertão nordestino – no Piauí, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Oriundo da floresta, só Luzio. A julgar pelas informações inscritas no seu esqueleto, estava adaptado à Mata Atlântica.

Paralela à costa brasileira, há uma barreira natural de montanhas que dificulta o acesso ao interior. “O Vale do Ribeira é um corredor natural que liga o continente ao litoral”, recorda Sabine Eggers, do Instituto de Biociências da USP, principal autora do trabalho publicado quarta-feira na PLoS One. “E Luzio foi encontrado ali, no meio do caminho.”

Apesar de se alimentar como um homem do interior, perto dos seus rastos foram encontrados dois dentes de tubarão que sugerem contato com o litoral.

Além disso, estava enterrado em um sambaqui – estrutura construída com conc\has pelos nativos. Até então, os sambaquis eram associados a populações ameríndias tradicionais, mais recentes. Paleoamericanos não pareciam construir sambaquis.

Praieiro. Luzio causou perplexidade: era um paleoamericano ligado à praia, enterrado em um sambaqui na Mata Atlântica. “O resultado do teste de carbono 14 (que datou o achado) surpreendeu”, afirma Levy Figuti, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP). Sua equipe descobriu Luzio durante um projeto sobre sambaquis fluviais no Vale do Ribeira, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O arqueólogo Paulo DeBlasis era responsável pelo Sambaqui Capelinha, onde Luzio foi encontrado. As pesquisadoras Claudia Plens e Maria Cristina Alves exumaram o esqueleto envolto em conchas de caramujos e argila laranja. “Como estava próximo da superfície – cerca de 10 centímetros -, achamos que era material recente”, explica Figuti.

Não se sabe se o povo de Luzio veio da costa e depois colonizou o interior, ou se fez o caminho inverso. Sabine prefere a primeira opção. Pondera que é mais fácil se adaptar e migrar nos ambientes costeiros – que guardam uma semelhança maior entre si que os terrestres.

Mercedes Okumura, do MAE, participou da craniometria de Luzio e concorda com Sabine. “O ambiente da costa apresenta recursos mais abundantes”, afirma Mercedes. Contudo, a cientista lembra que possíveis sambaquis de paleoamericanos na costa dificilmente serão encontrados. “O nível do mar era mais baixo há 10 mil anos”, afirma. “Agora, estariam submersos.”

Para desvendar as questões suscitadas por Luzio, seria necessário encontrar outras pistas na região. “Temos planos de novas escavações”, garante Figuti.

O brasileiro Andre Strauss, do Instituto Max Planck, na Alemanha, estudou minuciosamente rituais funerários dos paleoamericanos de Lagoa Santa. Ele foi orientado por Walter Neves, responsável pela descoberta de Luzia. “O que aconteceu com estes paleoamericanos? Foram dizimados? Misturaram-se aos ameríndios?”, questiona, para recordar que estudos recentes apontaram a sobrevivência de traços de paleoamericanos entre os índios botocudos, no Brasil, e em nativos que habitavam a região de Baja Califórnia, no México.

 

PARA ENTENDER

Os pesquisadores analisaram isótopos de nitrogênio e carbono obtidos no colágeno dos ossos de Luzio. A concentração dos vários isótopos depende da dieta do sujeito estudado, especialmente da origem (marinha, fluvial ou terrestre) dos alimentos e das espécies vegetais consumidas. Os testes – realizados com falanges do pé de Luzio – foram feitos na Universidade Texas A&M e nos Laboratórios Geochron, nos Estados Unidos. 

Fonte: Estadão 

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Resenha do autor

Ao examinarmos os detalhes que a reportagem nos trás ficam evidentes alguns pontos. E fundamental saber que existem diferenças entre os povos eu vive em sambaquis litorâneos e os fluviais. Uma diferença que não se limita aos traços unicamente culturais mas até mesmo anatômicos como evidenciado em alguns trabalhos da professora Sabine da USP onde tive a oportunidade de ver re relance uma quantidade enorme de ossos em cima de suas bancadas.

Vale lembrar que os povos que colonizaram as Américas fora muitos e não unicamente os ameríndios e paleoíndios. Parece que outras duas migrações ocorreram e fazem parte de nossa historia ao longo de mais de 11 mil anos.

O período concreto da colonização das Américas e um mistério uma vez   eu as datações se estendem para mais de 14 mil anos extrapolando o limite proposto pelos americanos sobre a população chama por eles de Clóvis.

Alguns registro o Chile chegam a 15 mil anos e outros ate 32 mil anos. No Parque Nacional Serra da Capivara a Francesa Niède Guidon datou pinturas rupestres em mais de 100 mil anos. Não existe tanta clareza a respeito do momento exato em que ocorreu de fato o processo de colonização do nosso continente.

Aqui cabe uma ressalva que descarta a proposta criacionista de que terra tem somente 10 mil anos de idade.

Na reportagem acima o Carbono 14 foi utilizado para fazer a datação de tais registros arqueológicos. A datação por carbono 14 é também utilizada para datar registros arqueológicos da bíblia. Como por exemplo o Santo Sudário, que foi desmacarado como uma farsa. Semana retrasada em uma palestra na Faculdade Oswaldo Cruz com estudantes de engenharia Química o Dr. Victor nehmi, uma das autoridades em datação de carbono 14 mencionou que este elemento é usado para datar registros até cerca de 50 mil anos, onde o cálculo de sua meia vida ainda é razoavelmente confiável.

O processo de datação acima utilizou o mesmo elemento químico utilizado pelos pesquisadores da arqueologia bíblica e mostrou que o tempo de vida desses “paleopovos” se estende bem mais, do que o previsto pela mitologia criacionista. Não há razão teológica e muito menos científica para acreditar que a terra tenha somente meros 10 mil anos ou como tenho pesquisado recentemente, alguns criacionistas acreditam que ela tenha somente 6 ou 7 mil anos.

O registro arqueológico também vai contra as premissas criacionistas.

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Referência:

DISTÂNCIA BIOLÓGICA ENTRE SAMBAQUIEIROS FLUVIAIS (MORAES – VALE DO RIBEIRA-SP) E CONSTRUTORES DE SÍTIOS LITORÂNEOS (PIAÇAGUERA E TENÓRIO-SP E JABUTICABEIRA II-SC). Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 165-180, 2005-2006.

Scritto da Rossetti

Palavras chaves: Netnature, Rossetti, Sambaqui, Arqueologia, Carbono 14.

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