O QUE É VIDA?

Recentemente uma equipe de pesquisadores liderados por Craig Venter e Clyde Hutchison sintetizou um genoma bacteriano mínimo, contendo apenas os genes necessários para o estado mínimo da vida, que consiste de apenas 473 genes. Aqui vamos tratar do significado disto para a biologia moderna e para a definição do que é vida.

Células tronco embrionárias humanas - Human Embryonic Stem Cells - Imagens de microscopia eletrônica fotos microscópicas de células estaminais embrionárias humanas são raras. Muitas vezes requer várias tentativas para crescer uma colônia de células-tronco de uma maneira tal que é propício para a visualização com microscópio eletrônico de varredura. Temos tido sucesso, porém.

Célula é a unidade básica da vida. Na foto, uma célula tronco embrionária humana tirada por microscopia eletrônica. Fonte: Aplmicro

A pesquisa é algo sem dúvida alguma inovadora, pois criou uma condição básica do que seria o primeiro ser auto-replicante, uma célula bacteriana sintética, fornecendo evidências importantes sobre os primeiros genomas e como a técnica hoje permite projetar no computador, quimicamente e no laboratório células básicas que correspondem a uma característica auto-sustentável e auto-criadora controlada apenas pelo genoma sintético.

Alguns sites divulgadores de pseudociência chegaram a descaracterizar a pesquisa dizendo que “os pesquisadores haviam simplificado o genoma e estão chamando isto de evolução”. Tal premissa é falsa no sentido de que a simplificação ela foi feita para tentar entender quais, e quem são os genes básicos para a forma de vida mais simples, para posteriormente permitir a evolução biológica fazer seu papel. A pesquisa parte da primeira célula, que é a unidade básica de qualquer ser vivo (exceto vírus, que são parasitas intracelulares). O estudo não parte da origem da vida a partir da química pré-biótica, ou seja, dos elementos químicos e das condições da Terra no momento em que os primeiros replicadores moleculares precursores das células se formaram.

A pesquisa parte da primeira célula e do que seria necessário para ela sub-existir. Não correspondem ao Last Universal Common Ancestor integralmente (LUCA, ou último ancestral comum universal da vida), mas sim de quais peculiaridades ele certamente deveria ter para sub-existir. Por isto a célula foi sintetizada com estas peculiaridades. A descoberta refere-se aos genes necessários e não ao LUCA em si.

Destacar isto é importante porque mostra que a ciência esta tentando (e progredindo) descobrir quais são as supostas características da primeira unidade básica da vida e o que aconteceu entre os primeiros blocos de replicação até a primeira célula. Também é importante para evitar que certas afirmações especulativas sejam criadas por movimentos anti-ciência e pseudocientíficos.

O que a pesquisa de Craig Venter e Clyde Hutchison fez foi simplesmente sintetizar uma célula mínima que contenha apenas os genes necessários para sustentar a vida em sua forma mais simples, um esforço que poderia ajudar os cientistas compreender a função de cada gene essencial em uma célula. Venter, Hutchison e colegas usaram o Mycoplasma, as bactérias que possuem os menores genomas conhecidos de quaisquer células de replicação autônoma. Em 2010, os pesquisadores sintetizaram o genoma da Mycoplasma mycoides e com base na literatura existente, os pesquisadores projetaram genomas mínimos hipotéticos em oito segmentos diferentes, cada um dos quais poderiam ser testados, a fim de classificar com precisão os genes constituintes como essencial ou não. Durante este processo de síntese, de atuação do homem como designer inteligente, os pesquisadores também procuraram identificar genes quase-essenciais necessários para um crescimento robusto, mas não absolutamente necessários para a vida (Science Daily, 2016).

A nova árvore da vida que pesquisadores publicaram. Isso mostra que grande parte da biodiversidade da Terra é de bactérias (superior) metade dos quais inclui "radiação de filos candidatos" que ainda estão à espera para serem descobertos. Os seres humanos estão no ramo inferior do eucariontes. Crédito Jill Banfield / UC Berkeley, Laura Hug /University of Waterloo.

A nova árvore da vida mostra que grande parte da biodiversidade da Terra é de bactérias (superior) metade dos quais inclui “radiação de filos candidatos” que ainda estão à espera para serem descobertos. Os seres humanos estão no ramo inferior do eucariontes. Crédito Jill Banfield / UC Berkeley, Laura Hug /University of Waterloo. Fonte: The New York Times.

Em uma série de experiências, Venter, Hutchison e seus colegas de equipe inseriram transpósons (sequências genéticas estrangeiras) e numerosos genes para interromper as suas funções e determinar quais foram necessários para o funcionamento geral das bactérias. Eles lapidaram este sintético e foram reduzindo o genoma repetindo experiências até não ter mais genes interrompendo o funcionamento celular constituindo assim o menor genoma possível.

Fundamentalmente, a análise revelou que alguns genes inicialmente classificados como “não-essenciais”, que de fato desempenham a mesma função essencial como um segundo gene; assim, um do par de genes precisa ser mantido no genoma mínimo. A versão final, apelidada de JCVI-syn 3.0, compreende 473 genes com um genoma menor que o de qualquer célula que se replica autonomamente encontrada na natureza até o momento.

O genoma mínimo dos pesquisadores carece de todos os genes modificadores de DNA, de restrição e a maioria dos genes que codificam as lipoproteínas. Em contraste, quase todos os genes envolvidos na leitura e expressão da informação genética no genoma (bem como na preservação de informação genética através das gerações) são mantidos. Curiosamente, as funções biológicas precisam de cerca de 31% dos genes do JCVI-syn 3.0 e ainda permanecem desconhecidas (Venter et al, 2016).

No entanto, vários homólogos em potencial para um número desses genes foram encontrados em outros organismos, o que sugere que codificam proteínas com funções universais que ainda precisam ser determinadas especificamente. A plataforma JCVI-syn 3.0 representa uma ferramenta versátil para investigar as funções essenciais da vida.

Craig Venter abriu espaço para uma parte da biologia muito importante, a pergunta da filosofia da biologia; O que é vida?

No século XX o conceito de vida surge como problema científico como destacou Michel Foucault (2000) destacando que a biologia vai ter que explica-la, e que até então só havia estudado seres vivos, considerados como categorias taxonômicas. Estudar a vida e classifica-la é uma condição relativamente “fácil”, mas definir a vida, em sua tamanha diversidade é um pouco mais complicado. De fato, a referência que temos de vida são estas categorias taxonômicas e a partir dela (e de suas propriedades) a ciência parte para uma definição que seja universal, embora não saibamos se há vida em outros pontos do universo e sob quais formas ela poderia se apresentar.

Este é o ponto em que a biologia atual esta, porém, durante grande parte da história da humanidade, desde os filósofos gregos até os dias de hoje esta questão esta sendo abordada. Aristóteles discutiu conceito de vida. As cosmologias antigas, medievais discutiam e ideias de matéria, vida e espírito. Neste momento da história não era possível definir cientificamente a vida, pois tais conceitos estavam profundamente misturados e eram confundidos demas para distingui-los e definir vida. Para Aristóteles, existem quatro causas fundamentais que também são condições necessárias para que as coisas existam. As causas são: material, formal, eficiente e final. A causa material é a matéria da qual é feita a essência das coisas. A causa formal diz respeito à forma da essência. A causa eficiente é aquela que explica como a matéria recebeu determinada forma. A causa final é aquela que determina a finalidade das coisas existirem e serem como são (Mundo Educação).

Em seu tratado “Da Alma” o filósofo Aristóteles faz uso de dois termos, matéria e forma, que usados de forma inseparáveis. O filosofo dizia que ainda que a matéria precise de forma, continuaria existindo na ausência dela. E a forma para sua existência requer não qualquer tipo de matéria, mas especificamente a matéria de uma determinada espécie. Sendo assim a “matéria” é o potencial, e a ”forma” é a ação. Assim, Aristóteles vai dizer que o ser é Enteléquia de um corpo orgânico dotado de um potencial de vida (Hani, & Videira, 2000).

A enteléquia é a realização completa de uma tendência, a potencialidade ou finalidade natural de um processo transformativo de todo e qualquer ser animado ou inanimado do universo. É o ser em si tal qual é plenamente realizado, em oposição ao ser em potência. O conceito aristotélico surge em contraposição à ideia de Platão e o mundo das ideias.

Aristóteles defendia que todo ser se desenvolve a partir de uma causa final interna a ele. Por isto a estrutura da palavra enteléquia (ἐντελέχεια) vem do grego e refere-se a “en” como “dentro” de “telos” como “finalidade” (“entelos” como finalidade interior). Platão defendia que a finalidade vinha por razões ideais externas. Entelequia se suporta então a uma tensão de um organismo para se realizar segundo leis próprias, passando da potência ao ato (Aristóteles).

uma das mais famosas pinturas do renascentista italiano Rafael e representa a Academia de Atenas (Scuola di Atene). Platão segurando o Timeu (Leonardo da Vinci). 15: Aristóteles segurando Ética a Nicômaco.

Uma das mais famosas pinturas do renascentista italiano Rafael Sanzio representa a Academia de Atenas (Scuola di Atene). Platão segurando o “Timeu” a esquerda e Aristóteles segurando o livro “Ética a Nicômaco”a direita.

Na tradição cristã a vida é o que salva o homem da aniquilação total, a morte ou a inexistência. De fato, durante a Idade Média esta era a concepção de vida e juntamente com as ideias de Aristóteles influenciou vários pensadores, como Santo Tomas de Aquino. Este, como bem se sabe adaptou as obras de Aristóteles a concepção cristã na sua “Suma Teológica” dando origem ao conceito filosófico aristotélico-tomista onde a vida só é possível devido a uma força externa que na proposta cristão é a alma imortal, independente do corpo (concepção completamente contraditória ao Aristóteles). Inicialmente suas ideias foram vistas como erradas por Tomas de Aquino, Guilherme de Ockham, Roger Bacon, Duns Scotus e sobraram críticas a sua filosofia. Tanto que suas adaptações foram bastante controversas e pouco convencionais, ao contrário do que fizeram com as de Platão.

Quando as obras de Aristóteles foram traduzidas do árabe para o latim, Aquino desafiou a censura da época, integrando-as a teologia cristã e adaptando-as. Por exemplo, Avicena, Averrois estavam dispostos a aceitar a visão aristotélica, ainda que ocorressem contradições filosófico/teológicas. Por exemplo, os judeus e cristãos medievais foram relutantes em aceitar Aristoteles, pois a bíblia dizia que o universo teve um início e Aristóteles dizia não, que o universo era infinito. Cristãos e judeus, tais como Filopono, diziam que a ideia de Aristóteles deveria estar errada e precisava ser modificada para se adequar o cristianismo.

Conciliaram isto dizendo que o mundo teve um começo, mas Deus pode tê-lo criado de forma a ter existido eternamente para condizer com a ideia aristotélica de que o universo é infinito (Livro de Filosofia, 2011). Na era moderna, surgiram grandes debates sobre outros conceitos, como o vitalismo, mecanicismo e organicismo.

O vitalismo estabelece que a força, impulso ou fluído vital da qual a vida existe não pode ser explicado. Seria uma força específica diferente de qualquer um estudada na física ou pela química, que aqui é chamada de Elán vital; muitas vezes foi identificada por religiosos como a alma, como Vontade de agir (por Immanuel Kant), Potência de agir (por Baruch Spinoza) Vontade de potência (por Nietzsche) e libído (por Freud), que atuando sobre a matéria organizada daria como resultado a vida. No vitalismo este fluído vital seria então algo inerente ao que se entende por vida, uma forma distinta de energia. Este voluntarismo dos organismos vivos não é presente na matéria simples, comum, inanimada, graças ao impulso vital. Os vitalistas vão estabelecer então que o fluído vital é uma fronteira clara entre o mundo vivo e não-vivo. Neste sentido, a morte (diferentemente da interpretação dada pela ciência moderna), não seria efeito da deterioração da organização do sistema, mas resultado da perda do impulso vital que se separada do corpo material. A morte seria uma consequência indireta da deterioração (Hani, & Videira, 2000).

O organicismo vai estabelecer que a vida supostamente apresenta propriedades ligadas ao todo determinando uma complexidade que não pode decorrer da individualidade das partes, e sim da sua interação como um todo. Foi uma construção filosófica e sociológica desenvolvida no século XIX que compara a sociedade a um organismo vivo. A ideia surgiu a partir dos elementos constitutivos da sociedade, os grupos sociais e as organizações que assumem o papel de órgãos os quais são definidos pelas suas funções e contribuições para o equilíbrio e sobrevivência do todo. A interpretação de cada uma das funções dos diversos elementos da sociedade constitui uma das bases do funcionalismo. Assim, a natureza constitucional de um organismo vivo é resultado da organização mecânica dos órgãos de certa forma autônomos (até certo ponto) e dotados de propriedades vitais redutíveis a processos físico-químicos, ou seja, uma construção oposta à da força vital de natureza holística e imaterial do vitalismo.

Outra corrente filosófica que surgiu foi o mecanicismo, com um caráter profundamente determinista alegando que todos os fenômenos se explicam pela causalidade mecânica ou em analogia à causalidade mecânica. Muitas vezes ele é defendido pelo deísmo (corrente filosófica naturalista que acredita na criação do universo por uma inteligência superior que pode, ou não, ser Deus), que sustenta que o universo é um mecanismo, um conjunto de engrenagens na qual pressupõe a existência um ser superior não-mecânico, assim como um relógio pressupõe a existência do relojoeiro que o construiu (Hani, & Videira, 2000).

No mecanicismo, o atributo singular era a regularidade de fenômenos naturais, se opondo ao organicismo e concebia os seres vivos como orientados para um fim especifico via natureza com mecanismos cujo funcionamento se regia por leis rigorosas.

Muitas críticas a esta ideia surgiram, desde David Hume que bateu na concepção de analogia forte e fraca das questões mecânicas do universo e vida, até as falhas dos argumentos teleológicos. Ernest Haeckel, eminente biólogo alemão foi um dos principais críticos desta ideia e importante defensor das ideias de Darwin.

Segundo Haeckel, quando se admite que a substância possui atributos da matéria estes ocorrem segundo a Lei de Conservação de Energia sendo todos os corpos sensíveis. O que Haeckel faz é se desligar do materialismo e do espiritualismo, não considerando a alma como algo transcendentalmente herdado, mas algo historicamente concebido por um desenvolvimento filogenético lento e progressivo iniciado nos vertebrados inferiores.

O alemão Friedich Nietzsche buscou outra visão para explicar o mundo orgânico e recorreu a auto-regulação sustentada por dominação. Isto significa que o indivíduo é resultado da luta interna entre suas menores partes (células, tecidos, órgãos) aliadas a vencer de certas partes e ao definhar outras. E claro, para ele a crença em uma alma indestrutível eterna e indivisível deveria ser expulsa da ciência; mesmo objetivo de Haeckel. Em meados da década de 30 a visão vitalista começou a perder sentido e passou por grande rejeição dando origem a uma nova biologia que é, até os dias de hoje, competente em resolver problemas tradicionalmente considerados pelo vitalismo (Hani, & Videira, 2000). A retirada das concepções teleológicas foi importante na constituição da biologia moderna como uma ciência autônoma, fato que não foi superado até hoje por grupos religiosos que insistem em tentar converter a ciência a posturas escolásticas, ou concepções mecanicistas recorrendo á teleologia, essencialismo e Scala naturae.

Scala naturae aristotélica. Fonte:"

Scala naturae aristotélica, onde o homem é topo da criação. Fonte: MidLand Ladder.

A partir da década de 20, por exemplo, começaram a surgir grandes tentativas de converter a ciência novamente a luz de concepções cristãs culminando no máximo a regimes fundamentalistas forjando posturas pseudocientíficas, não só como uma forma de rejeição a teoria darwiniana inserindo questionamentos sobre os achados fósseis, mas também sobre a origem da vida. A partir da década de 30 o componente vitalismo e, especialmente a teleologia (como os argumentos de Palley) caíram no ostracismo e com os avanços da nova ciência, a biologia moderna, conseguimos os principais avanços tecnológicos atuais na genética, biologia molecular/bioquímica, zoologia ecologia e fisiologia (Hani, & Videira, 2000).

E se de fato a biologia é, hoje uma ciência autônoma e competente em relação à química e à física, ela deve ser capaz de caracterizar os sistemas vivos que estuda, tratando de diferencia-los de sistemas estudados por químicos e físicos que não são vivos.

Infelizmente até os dias de hoje alguns biólogos acreditam que não é possível definir vida sem fazer uso de aspectos essencialistas. Isto se da devido ao longo período em que a humanidade tentou estabelecer o conceito e não conseguiu, e acabam recorrendo a concepções essencialistas. Nessa visão, algo é definido como membro de uma classe se compartilha com os outros membros um conjunto permanente (e fixas) de propriedades essenciais, que podem ser listadas e verificadas. O conflito surge quando tenta-se estabelecer o número e do tipo das propriedades que devem ser incluídas em uma lista de condições essenciais, inerentes suficientes e necessárias para conceituar a vida. Na biologia, é muito difícil descrever toda a complexidade da vida com uma simples equação matemática. Isso ocorre exatamente porque a biologia não é essencialista e não é fixista. Essa concepção essencialista foi proposta por Platão, onde há um duelo entre o mundo dos sentidos e o mundo real, ou o mundo das ideias como dito anteriormente (Hani, & Videira, 2000).

Pela concepção platônica, reconhecemos o mundo através das cópias imperfeitas de conceitos ideias de nossa mente, onde tudo nesse mundo é somente uma sombra de sua forma ideal e perfeita; como o mito da caverna de Platão exemplifica. A ideia de Platão serviu como estrutura filosófica para Santo Agostinho deixar de lado as questões básicas da filosofia grega e argumentar que as ideias de Platão se encaixavam perfeitamente com a interpretação bíblica de Gêneses (Livro de Filosofia, 2011) e fomentou durante grande parte da história das ciências naturais que naturalistas fizeram uso de concepções essencialistas, teleológicas e de escala natural. Graças ao componente platônico inserido da tradição cristã que influenciou o pensamento na igreja medieval, e desdobramentos de concepções aristotélicas.

Já Monod (1971), enumerou três propriedades que supostamente eram inerentes á vida: teleonomia, morfogênese autônoma e invariância reprodutiva. De Duve (1991), citou sete: assimilação, conversão de energia em trabalho, catálise, informação, isolamento controlado, auto-regulação e multiplicação. Mayr (1982), grande biólogo apresenta uma lista de oito propriedades (que veremos mais adiante). O problema é que existem tantas listas de possíveis de propriedades que não havia um critério coeso para definir qual estava correta e como não temos acesso à essência da vida, àquilo que define essencialmente um sistema como vivo não seria possível definir especificamente a vida.

Por esta razão, a vida como um fenômeno surge como um problema para a ciência moderna, em especial a biologia, no fim do século XVIII (Hani, & Videira, 2000). Anteriormente, a definição de “vida” não existia como um conceito científico, mas apenas em seres vivos, e, assim, não se podia falar propriamente em nome de uma biologia. E quando Foucault destacou isto, estava correto!

A tentativa de definir vida por meio de uma lista de propriedades para que algo seja considerado vivo deve necessariamente compartilhar com as outras coisas vivas conjuntos de características que podem ser vistas como uma espécie de vestígio da história natural. A vida não aparece, nessas listas de propriedades citadas, como um fenômeno único e coerente e se torna relativa aos critérios escolhidos por cada proponente das ideias criando uma controvérsia e polêmicas sem uma conclusão (Hani, & Videira, 2000).

Quando a biologia se constitui como ciência, é necessário definir a vida como um fenômeno cientificamente coerente abandonando uma série de concepções erradas criadas ao longo da história da humanidade que não correspondem mais diante das evidências.

A biologia do século XX proporcionou ferramentas conceituais fundamentais para construirmos um retrato coerente de pelo algumas propriedades universais dos sistemas vivos. E claro, a ciência, a ontologia ou a metafísica criaram uma interdependência e troca mútua entre esses temas, onde a vida, a mente, consciência e, matéria podem ser classificadas como ontodefinições; termo criado por Emmeche (1997, 1998) para designar definições situadas na fronteira entre a ciência e a metafísica. São categorias muito amplas dependendo da visão do mundo e definem, da forma mais geral o que os cientistas estão buscando em uma ou mais áreas da pesquisa científica e, ao mesmo tempo, fornecendo um esquema básico para a explicação da natureza dos objetos de estudo. Sendo assim, essas ontodefinições apresentam um caráter de integração nos paradigmas científicos, inclusive a possibilidade de definir a vida.

Mayr em 1982 define a vida como um processo e defende que:

“O processo da vida, contudo, pode ser definido. Não há dúvida de que os organismos vivos possuem certos atributos que não são encontrados da mesma maneira em objetos inanimados…”

(Mayr, 1982).

As oito propriedades listadas por Mayr para definir o processo da vida é incompleta. Sua lista é redundante, porque simplesmente ilustra características que diferenciam os organismos vivos da matéria inanimada, como ele mesmo assume.

Sua lista inclui complexidade e organização; singularidade química, no sentido das propriedades extraordinárias observadas nas moléculas de elevado peso molecular (macromoléculas) que compõem os seres vivos, mas não são normalmente encontradas na matéria inanimada; qualidade (na qual Mayr faz uma contraposição entre o mundo físico, a quantificação e o mundo biológico como um mundo de qualidades, diferenças individuais, sistemas de comunicação, interações em ecossistema e assim por diante); individualidade e variabilidade; presença de um programa genético (com a observação de que não há “nada comparável a ele no mundo inanimado, com exceção dos computadores construídos pelo homem); natureza histórica; seleção natural; e indeterminação, incluindo a “emergência de qualidades novas e imprevisíveis nos níveis hierárquicos” (Hani, & Videira, 2000).

Mayr pressupõe que definir vida significa especificar suas qualidades de uma maneira essencialista o que seria superficial, tendo em vista que entre os biólogos há um o consenso estabelecido de que não há uma substância ou força que caracteriza a vida em sua “essência”. Mayr considera possível definir a vida como um processo que preenche uma lista qualitativa e de propriedades redundantes inerentes a vida. E claro, sua lista de propriedades apresenta uma série de falhas e que não justifica qual a vantagem de tentar definir a vida como um processo e não a vida tal qual ela é. Neste sentido, há uma diversidade de propostas que são apresentadas no caso da definição da vida: 1) de que a vida não pode ser definida; 2) a definição de vida não é importante para a biologia; 3) a vida como um processo pode ser definido ou, distinguida dos processos inorgânicos através de uma lista de propriedades; 4) é complicado delimitar esse conjunto de propriedades. Neste ponto, acaba sendo possível que certos seres vivos não apresentem todas as propriedades, de modo que a lista não corresponde a um conjunto de propriedades necessárias e suficientes para abranger toda a vida, sendo muitas vezes vaga e redundante. Além disto, eventualmente, pode acabar aceitando processos não-vivos como se o fossem devido a fronteira entre processos vivos e não-vivos não ser claramente demarcada; e 5) embora a vida seja um fenômeno físico, a biologia lida com sistemas de tal complexidade que não podemos na prática ter esperança de reduzi-la à física (Hani, & Videira, 2000).

O biólogo evolucionista britânico John Maynard Smith (1986), vai além da visão tradicional e tenta uma definição geral de vida a partir de dois critérios: 1) metabolismo embora as formas dos organismos vivos permaneçam constantes, os átomos e as moléculas dos quais são compostos estão constantemente mudando; e 2) partes dos organismos têm funções que contribuem para a sobrevivência do todo.

Não se trata unicamente de fornecer um elenco de propriedades inerentes, mas é preciso que elas estejam relacionadas com um paradigma específico da biologia, no caso, a biologia evolutiva neodarwinista. A vida pode ser definida, de acordo com Maynard Smith pela presença destas propriedades necessárias para garantir a evolução por seleção natural, ou seja, entidades com as propriedades de multiplicação, variação e hereditariedade são vivas e entidades que não apresentam uma ou mais dessas propriedades não o são. Como veremos, esta é uma das definições de vida (ainda que implícita) que pode ser encontrada na biologia teórica.

Assim, se for possível definir a vida de uma maneira não-essencialista e rigorosamente científica, olha-la como um processo não será satisfatório. Diferentes visões sobre o que é definir algo foram propostas ao longo do tempo e a visão de como os conceitos adquirem seu significado surgida a partir da década de 1960 é especialmente interessante para os propósitos da biologia na definição de vida. Para definir vida precisamos definir o conceito de definição científica!

É necessário, até mesmo como estabelece a própria filosofia da ciência, que haja concordância entre estes conceitos para demonstrar que teorias científicas não são meras conexões de sentenças mal estruturadas, não abrangendo a totalidade do que é a vida (Chalmers, 1995). Isto significa que a definição de um conceito como parte de um paradigma científico implica necessariamente em introduzi-lo em uma rede de conceitos que se sustentam mutuamente e conferem significado uns aos outros. Essa rede de conceitos não pretende capturar a realidade essencial do que está sendo definido (por exemplo, a vida). Um bom exemplo disto é a própria teoria da evolução, que é darwiniana; um conceito que se sustenta a partir de uma série de hipóteses que foram testadas desde a época de Darwin. As hipóteses que não se sustentaram diante das evidências pereceram e as que se mostraram coerentes com as evidências empíricas permaneceram. Com o desenvolvimento da genética a partir da redescoberta dos trabalhos de Mendel, e posteriormente com o desenvolvimento da biologia molecular uma série de hipóteses que foram se mostrando competentes se concatenaram junto a teoria de Darwin formando novas sínteses, mais completas e atualizadas. Este conjunto de hipóteses incessantemente testadas e aprovadas concatenadas entre si constitui uma Teoria, a teoria da evolução biológica (Hani, & Videira, 2000).

O conceito a ser definido adquire um significado específico, em virtude de suas conexões conceituais (com os demais conceitos na rede), e uma rede de práticas teóricas, experimentais comunicativas entre si (como exemplificado com a evolução biológica onde as hipóteses concatenadas se conversam na teoria e na prática, na lógica e na experimentação).

Assim, para definir vida, é necessário estabelecer sim os atributos definidores desse fenômeno, mas também conecta-los, pois, a maneira como definimos algo por meio de suas propriedades que ela possui é o meio pela qual ela é entendida.

Portanto, não adianta buscar apenas propriedades, ou propriedades essenciais dos sistemas vivos, pois não há uma busca por uma força ou substância especial que caracterize a vida. A definição deve identificar propriedades que deem significado ao conceito “vida” à luz de algum paradigma e da rede de conceitos. Quando Maynard Smith cita propriedades para caracterizar o que é um sistema vivo, ele não se limita a propor uma lista de propriedades, mas procura relacionar os atributos citados com um paradigma específico; no caso, a biologia evolutiva neodarwinista (Hani, & Videira, 2000).

Para definir vida são necessários alguns pré-requisitos: universalidade; coerência com o conhecimento científico; elegância conceitual (concatenação de conceitos) e capacidade de organização cognitiva; e especificidade conceitual. Falaremos de cada um delas.

Para que uma definição de vida seja satisfatória ela deve ser capaz de de lidar com a universidade, abrangendo todas as formas possíveis de vida, e não apenas a vida baseada em carbono, DNA, proteínas etc., que resultou da evolução no planeta Terra. Caso exista vida em outros planetas, ela pode, por exemplo, não ter sua informação genética armazenada em moléculas de DNA ou um metabolismo baseado em proteínas com função enzimática como as encontradas aqui na terra. Ainda que não se saiba com certeza se há vida em outros planetas e a forma na qual elas são constituídas é muito difícil para nós biólogos do século XXI, imaginar formas de vida que não parasitem outras, ou que tenham genótipo (o conjunto de genes) e fenótipo. Assim, talvez a melhor definição neste sentido deva referir-se a vida de modo genérico especialmente quanto a genótipos e fenótipos, e não de maneira particular (usando o DNA e cromossomos) como eles se apresentam na Terra (Hani, & Videira, 2000).

Outro pré-requisito para uma definição de vida não deve envolver noções contrárias ao conhecimento científico atual sobre as coisas vivas e seus componentes inorgânicos. Isto significa que ela deve ser coerente com a compreensão geral dos sistemas vivos baseada na pesquisa biológica, bem como com a física e química modernas. Assim, exclui-se como definição de vida citações de energias ou poderes vitais ocultos, forças sobrenaturais e coisas semelhantes. Isto não compreende uma definição científica.

Outro ponto importante a destacar é que a definição de vida deve apresentar elegância conceitual, ou seja, ser capaz de organizar grande parte do campo de conhecimento da biologia e criar um perfil claro ao objeto geral de estudo da biologia. Deve organizar nossos modelos e nossas teorias dos sistemas vivos de maneira unificada e coerente distinguindo a abordagem científica da vida dos outros tipos de investigação.

Por último, a definição deve dar uma ideia de qualquer tipo de sistema que possa ter a capacidade de viver, metabolizar, auto-replicar-se ou quaisquer outras propriedades inerentes a sistemas vivos consideradas relevantes no contexto de um determinado paradigma, e claro, ainda sim ser suficientemente específica para assegurar a distinção enter sistemas vivos de coisas não-vivas (Hani, & Videira, 2000).

Assim, quando se define vida, pretende-se demarcar um conjunto muito amplo de processos de forma muito geral e organizada dos sistemas físicos, apresentando suas diferenças em relação a outras categorias igualmente gerais. Atualmente, existem algumas definições que são cotadas para conceituar vida. Elas compreendem a visão da vida como seleção natural de replicadores, como um sistema auto-poiético, como fenômeno semiótico ou como sistemas autônomos com evolução aberta. Estas são as principais propostas atualmente apresentadas para definir vida.

A vida como seleção natural de replicadores refere-se á capacidade que os seres vivos  tem de produzirem copias de si mesmos mantendo características básicas através das diversas gerações, e concomitantemente passarem por mudanças genéticas provenientes de mutações  e/ou recombinação evoluindo com o passar do tempo segundo fundamentos da teoria neo-darwinista (Corrêa et al, 2008).

Na biologia evolutiva neodarwinista podemos encontrar uma definição de vida que pode satisfazer tais pré-requisitos. Devemos lembrar também que a biologia evolutiva neodarwinista é hoje o paradigma vigente da biologia moderna, como destacou Dobzhansky (1973) ao afirmar que “nada na biologia faz sentido exceto à luz da evolução“. A proposta de que vida pode ser caracterizada como um fenômeno de seleção natural de replicadores ou entidades que fazem cópias de si mesmas é frequentemente ignorada ou negligenciada devido à visão tradicional sobre a definição de vida e à atitude cética que a acompanha, especialmente pelos que negam a evolução darwiniana por motivos não científicos (geralmente pseudocientíficos/religiosos).

Felizmente, a maioria dos biólogos evolutivos aceita-a como uma definição satisfatória de vida, na medida em que estão acostumados a pensar na vida não ao nível do organismo individual, mas como linhagens de organismos conectados pelos processos de reprodução e seleção ao longo do tempo geológico; compartilhamento histórico ou ainda, um relacionamento filogenético.

Evolução transformou a vida através de inovações importantes no armazenamento de informações e replicação, guloseimas, incluindo RNA, DNA, multicelularidade e cultura e língua. Argumentamos que a biosfera à base de carbono gerou um sistema cognitivo (em humanos) capazes de criar tecnologia que irá resultar em uma transição evolutiva comparáveis. A informação digital chegou a uma magnitude semelhante à informação na biosfera. Ele aumenta exponencialmente, exibe replicação de alta fidelidade, evolui através de fitness diferencial, a inteligência artificial é expressa através de (AI), e tem facilidade para recombinação praticamente ilimitadas. Como transições evolutivas anteriores, o potencial simbiose biológica e Entre informação digital vai chegar a um ponto crítico em que poderia competir Estes códigos através da selecção natural. Alternativamente, ESTA fusão foi possível criar um nível mais alto superorganismo low-conflito Empregando uma divisão de trabalho na realização de tarefas informativos.

A vida surgiu como um processos de polimerização auto-replicante e a evolução transformou a vida através de inovações importantes no armazenamento de informações e replicação, incluindo RNA, DNA, multicelularidade, cultura e língua. Fonte: Martin hilbert. Clique para ampliar

Por essa definição, a vida é uma propriedade de populações de entidades que são capazes de realizar a auto-reprodução e que herdam características de seus ancestrais por um processo de transferência de informação (chamada de genética) e por consequência, hereditárias, criando uma distinção entre genótipo e fenótipo. Esta definição também conta com a apresentação de ligeiras variações em virtude de mutações aleatórias (no genótipo). Assim, a vida deve então, por esta definição, ter as chances de deixar descendentes pelo sucesso de sua combinação de propriedades (herdadas como genótipo e manifestas como fenótipo) nas circunstâncias ambientais nas quais vivem (seleção natural). Devemos destacar, no entanto, que para que essa definição satisfaça ao requisito da universalidade, é preciso lembrar que a referência “genótipo” e “fenótipo” não implica necessariamente em genes feitos de DNA e organismos feitos de células, que é uma concepção de vida caracterizada aqui na Terra, mas que pode haver sistemas semelhantes em outros pontos do Universo e/ou que ainda não são conhecidos pelo homem.

Para o biólogo Richard Dawkins as células e organismos multicelulares são (ou eram apresentadas nos seus primeiros livros) somente “máquinas de sobrevivência” para as seqüências perpétuas de informação escritas nos nucleotídeos das moléculas de DNA o que pode trazer certo viés na sua definição. David Hull (1981) atribuiu um papel central no processo evolutivo aos interagentes e às linhagens. Os interagentes (organismos) podem ser quaisquer entidades que interagem como um todo com o ambiente. Assim, quanto maior for o sucesso relativo do organismo, no qual um conjunto de replicadores ou genes é parte, cria uma relação com os outros interagentes com os quais ele compete por recursos e maiores são as chances dele deixar descendentes com suas características e, assim, dos replicadores em seu interior em passarem cópias de si mesmos para as próximas gerações.

Esta é uma maneira bastante básica e genérica do processo de seleção natural e nesse processo, a auto-reprodução e transmissão de características hereditárias dos interagentes dependem fundamentalmente dos replicadores e claro, o sucesso dos replicadores na perpetuação de sua informação genética depende de modo igualmente crucial dos organismos.

Geralmente, consideramos a vida como sendo tanto forma quanto matéria (como fez Aristóteles) e algo com aspectos tanto ligados á informação quanto organização e matéria. Na definição de Dawkins, ele coloca muita ênfase sobre o aspecto informacional, ou que vida é simplesmente informação de replicadores como padrões de que se auto-propagam. Isso pode criar uma cerca concepção idealista, na qual a vida seria definida como qualquer realização de algum conjunto específico de propriedades informacionais abstratas, não importando o meio material. Nesse sentido, um “organismo” simulado na tela de um computador poderia ser considerado tão vivo quanto os organismos constituídos por matéria orgânica com os quais estamos acostumados (Hani, & Videira, 2000).

A ideia de Dawkins é de que os auto-replicadores são os genes que são egoístas, proposta dada por ele na década de 70 em seu livro clássico “O gene egoísta”. Para Dawkins as células e organismos existem simplesmente como pacotes para proteger e transmitir genes. Uma nova pesquisa propôs recentemente que talvez “egoísta” sejam os ribossomos e que eles sejam os verdadeiros replicadores.

Uma pesquisa publicada no Journal of Theoretical Biology fornece evidências disto. O ribossomo esta sempre em posição de repouso pronto para traduzir DNA em proteínas. Eles não são apenas encontrados em todas as células de todos os organismos, mas são quase idênticos em todas as espécies vivas. São compostos por dois tipos de moléculas: as proteínas e o RNA. O RNA é estruturalmente muito semelhante ao DNA e existe em três formas. Uma dela é o RNA ribossomal (RNAr), que é puramente estrutural, formando o arcabouço do “maquinário” ribossômico. Os outros dois tipos são o RNA mensageiro (RNAm) e RNA transportador (RNAt), que estão fora do ribossomo e ajudam a “máquina” ribossômica a montar proteínas a partir de instruções do DNA. O RNAm transcreve a informação genética a partir de DNA e transporta-a para o ribossomo. O RNAt traduz a mensagem dos RNAm em aminoácidos, que são amarrados em conjunto no ribossomo para produzir uma proteína. Se ribossomos querem se reproduzir, o RNAr teria que conter: primeiro, “genes” que codificam as suas próprias proteínas ribossomais, de modo a ser capaz de formar a estrutura “maquinaria”. Em segundo lugar, ele deve conter os RNAm necessários para realizar a sua própria informação genética para o “maquinário”. Terceiro, deve codificar os RNAt necessários para traduzir os mRNAs em proteínas.

O artigo demonstra que o RNAr contém os vestígios do RNAm, RNAt e “genes“ que codificam a sua própria estrutura e função das proteínas. Assim, os ribossomos não são simplesmente os tradutores passivos do DNA eles fazem isto visando sua auto-replicação. E devemos lembrar que o paradigma vigente hoje é de que a vida a partir do DNA é resultado de um processo evolutivo a partir de um estagio anterior mais simples proveniente da hipótese de RNA-World, molécula inicial responsável pela hereditariedade.

O modelo de ribossomo egoísta fecha uma lacuna teórica grande entre, por um lado, as moléculas biológicas simples que podem se formar em campos argilosos, fontes hidrotermais oceânicas ou via relâmpago, e, por outro lado o LUCA, ou seja, o último ancestral universal comum, o primeiro organismo unicelular (Root-Bernstein & Root-Bernstein, 2015).

No geral, é plausível e coerente a universalidade e a elegância da proposta darwiniana de que toda a vida no universo evolua por um tipo de seleção darwiniana de entidades cujas propriedades são especificadas por um repertório de informações que pode ser replicado.

Outro modo de definir a vida, é olha-la sob a perspectiva de um sistema auto-poiético, ou seja, como um sistema organizacional fechado, onde os componentes são simultaneamente produto e produtor da rede. Vale lembrar que nesta proposta, o sistema não nega que haja um intercâmbio entre o sistema vivo e o ambiente porque a fonte de componentes é fechada em termos organizacionais, mas aberta em termos materiais e energéticos (Maturana & Varela, 1980; Varela, 1979; Maturana, 1997).

Um dos aspectos da vida citados por Maynard Smith e que o metabolismo não esta presente como um papel central da síntese neodarwinista para a definição de vida, mas orienta a investigação de um número significativo de pesquisadores em todo o mundo e em variados setores da ciência.

O físico Erwin Schröedinger, que escreveu o livro “What´s life?” (O que é vida?) olhou a vida como um sistema termodinâmico e fez uma descrição dela em comparação com a matéria não viva usando como referência o estado de entropia. Schröedinger afirmou que:

    “Qual a característica particular da vida? Quando se pode dizer que uma porção de matéria está viva? Quando ela “faz alguma coisa”, como mover-se, trocar material com o meio etc., e isso por um período muito mais longo do que esperaríamos que uma porção de matéria inanimada o fizesse nas mesmas circunstâncias. Quando um sistema não-vivo é isolado ou colocado em um ambiente uniforme, usualmente todo o movimento cessa depressa, como resultado de vários tipo de fricção; diferenças de potencial químico ou elétrico são equalizadas, substâncias que tendem a formar compostos químicos o fazem e a temperatura se torna uniforme por condução térmica. Depois disso, todo o sistema míngua para um bloco inerte e morto de matéria. É atingido um estado permanente, no qual não ocorre nenhum evento observável. O físico dá a esse estado o nome de equilíbrio termodinâmico ou estado de “entropia máxima”

Schröedinger ainda faz menção ao que é este estado de equilíbrio entre a positividade e a negatividade da entropia na vida:

“É por evitar o rápido decaimento no estado inerte de “equilíbrio” que um organismo parece tão enigmático. Assim é que, desde os mais remotos tempos do pensamento humano, afirma-se que uma força especial não-física ou sobrenatural (vis vivs, enteléquia) opera no organismo, e, em alguns recantos, ainda se afirma isso.(…) como um organismo vivo evita o decaimento? A resposta óbvia é: comendo, bebendo, respirando e (no caso das plantas) assimilando. O termo técnico é metabolismo. A palavra grega (metabole) quer dizer troca ou câmbio. Câmbio de quê? Originalmente, a ideia básica era, sem dúvida, troca de material. (…) É absurdo que a troca de material seja o essencial. Qualquer átomo de nitrogênio, oxigênio, enxofre etc. É tão bom quanto qualquer outro de seu tipo. O que se ganharia em trocá-los? Por algum tempo, no passado, nossa curiosidade foi silenciada por nos dizerem que nos alimentávamos de energia. (…) Desnecessário dizer que, tomado ao pé da letra, isso é um absurdo. Para um organismo adulto, o conteúdo de energia é tão estacionário quanto o conteúdo material. Já que, por certo, uma caloria é tão boa quanto qualquer outra, não se consegue ver qual o interesse de uma troca pura e simples.(…) O que é então esse algo tão precioso contido em nosso alimento, e que nos livra da morte? (…) tudo o que acontece na Natureza significa um aumento da entropia da parte do mundo onde acontece. Assim, um organismo vivo aumenta continuamente sua entropia – ou, como se poderia dizer, produz entropia positiva – e, assim, tende a se aproximar do perigoso estado de entropia máxima, que é a morte. Só posso me manter distante disso, isto é, vivo, através de um processo contínuo de extrair entropia negativa do ambiente, o que é algo muito positivo, como já veremos. Um organismo se alimenta, na verdade, de entropia negativa. Ou, exprimindo o mesmo de modo menos paradoxal, o essencial no metabolismo é que o organismo tenha sucesso em se livrar de toda a entropia que ele não pode deixar de produzir por estar vivo”.

Erwin Schröedinger esta certo em considerar o metabolismo como uma característica que esta essencialmente ligada a vida. Não é uma questão de chauvismo molecular, mas são propriedades que parecem ser inerentes aos seres vivos estudados pela biologia.

Esta proposta tem sido negligenciada pelos biólogos e filósofos da biologia. Ela difere da proposta neodarwiniana porque foi deliberadamente concebida como parte de uma teoria geral e  abstrata da vida. Ela também rejeita a noção da informação genética ou biológica como algo intrínseco ao sistema auto-poiético. De fato, a informação é entendida como algo atribuído ao sistema do ponto de vista de um observador e não admite noções de um “programa genético” que de algum modo “codifica” ou “representa” a informação do organismo como um todo, inclusive de signos ou sinais “interpretados” pelo organismo, ou, ainda, de “propósitos”, “funções” ou “objetivos” das partes de um ser vivo. Além disto, esta noção põe em evidência a ideia de que os sistemas vivos só podem ser caracterizados com referência a si mesmos, ou seja, de que um sistema vivo, como uma rede fechada de relações, pode ser visto como uma organização que define a si própria (Hani, & Videira, 2000).

Assim, o que diferencia as máquinas orgânicas das máquinas construídas pelo homem é que as máquinas que construímos não geram por si mesmas seus constituintes e, portanto, não podem ser consideradas auto-poiéticas. Isto nos lembra as falsas analogias que muitas vezes são criadas entre um sistema vivo (que biologicamente não obedece concepções teleológicas) e um sistema computacional (que sabidamente foi intencionalmente projetado). Por esta razão, definições que fazem uso de forças ocultas e sobrenaturais não se encaixam na definição científica de vida e ficam restritas a pseudociência.

A descrição do sistema vivo como uma máquina pode dar vez a críticas da teoria da auto-poiese por sustentar uma visão mecanicista da vida. Isto por que a autopoiese é uma propriedade do tipo tudo-ou-nada; um sistema não pode ser “mais ou menos” auto-poiético. A origem da autopoiese não pode, portanto, ser um processo gradual. Não há lugar, na teoria de Maturana e Varela para sistemas em transição de um mundo não-vivo (não-autopoiético) para um mundo vivo (autopoiético); no momento em que a vida se originou na Terra, houve uma mudança qualitativa, de um tipo de existência não-autopoiética (do o mundo químico inanimado) para um tipo de existência autopoiética (o mundo vivo). Assim, por esta teoria, fenômenos biológicos como evolução, auto-reprodução e replicação são secundários à constituição das unidades autopoiéticas. Nós poderíamos pensar na autopoiese até mesmo em espaços virtuais, como, por exemplo, numa simulação apresentada na tela de um computador (Haugeland, 1985).

Uma das formas que se explica como a polimerização da vida na Terra poderia ocorrer em uma condição primordial da vida vem do prêmio Nobel de química Manfred Eigen (1971) que apresentou a teoria dos hiperciclos nos anos 70. Sua teoria propõe que a vida teria emergido a partir de um processo de organização contínua de sistemas químicos de retroalimentação fora de equilíbrio; um sistema auto-poiético.

Para Eigen, esses ciclos tem a capacidade de se auto-replicar, transmitindo suas informações, inclusive eventuais mudanças evolutivas. A evolução destes ciclos se daria por instabilidades e poderiam favorecer a complexação e maior diversidade em seus componentes. As novas formas de sua organização se dão quando tais sistemas se encontram fora de equilíbrio. Por agentes externos, o ciclo sofre uma instabilidade que o conduz a entrar em equilíbrio novamente, processando e absorvendo a interferência. (Eigen, 1979 & Eigen, 1971)

Há algumas críticas aos hiperciclos de Eigen. Uma delas é que o modelo exige um mecanismo de produção de enzimas provenientes da informação contida no RNA. Contudo, ainda sim não há como ter certeza se tal hiperciclo de fato evoluiria.

John Maynard Smith também pontuou críticas ao modelo de Eigen, indicando que se o hiperciclo não estiver fixado em um compartimento como o de uma parede celular, seus componentes poderiam competir entre si, fragilizando assim o processo, impedindo-o como um todo evoluir por mutação e seleção natural (Smith, 1979). Shapiro em 2007 cogitou que “A essência da vida é uma rede de reações químicas funcionando em um estado relativamente estável, mas não em equilíbrio, e aberto a trocas” (Shapiro, 2007).

A definição da vida como auto-poiese parece ser suficientemente específica para capturar aspectos muito fundamentais da vida biológica, particularmente, a autonomia e organização fechada dos sistemas vivos. Assim, a vida como autopoiese pertence a um modelo distinto da biologia teórica cujas origens estão na teoria dos sistemas, cibernética e neurobiologia.

Outro modo vem da vida como um fenômeno semiótico, na qual procura compreende-la não apenas pela estrutura organizacional mas também pela interpretação de símbolos da natureza. Isto significa que a vida é entendida sob uma perspectiva de significados, sustentada pela teoria de Charles Peirce (Hani & Videira, 2000 e Corrêa et al, 2008).

Assim, para ser vivo deve haver um efeito do signo sobre um sistema que o interpreta e cria uma resposta ao estímulo. A origem da semiose ou da biossemiótica deveria então coincidir com o aparecimento das primeiras células, ou seja, membranas que separavam o ambiente interno (intracelular) do externo. Elas facilitaram a formação de um gradiente eletroquímico para produzir energia livre, que pode ser quimicamente armazenada; uma característica universal (e monofilética) que conecta as membranas diretamente ao metabolismo energético.

Historicamente, a origem das membranas foi abordada a partir de uma perspectiva de baixo para cima, com foco em como moléculas anfifílicas formam vesículas sob condições pré-bióticas e serviram como limites primordiais para protocélulas. Por outro lado, uma abordagem de cima para baixo, pode demonstrar que as características dos limites da membrana ancestral podem ser inferidas a partir de comparações feitas em organismos atuais. Esse tipo de abordagem ficou comum após a descoberta das archaeas (archaeobacterias) e suas membranas distintas (Veja aqui).

A interação entre o sistema imunológico e um agente invasor é dada pelo reconhecimento químico, gewralmente proteinas e receptores de membrana, o que confere um contexto semiótico.

A interação entre o sistema imunológico e um agente invasor é dada pelo reconhecimento químico, geralmente proteínas que formam os receptores de membrana, que confere um contexto semiótico.

Membranas heteroquirais pré-celulares teriam sido substituídas por membranas homoquirais mais estáveis quando apareceram as enzimas estereoespecíficas, desencadeando a divergência entre archaeobacterias e bactérias.

Mesmo uma bactéria mostra então ser capaz de interpretar fatores físicos e químicos do ambiente e responder a ele graças a interpretação de signos (o que não significa que seja consciente) na medida em que é capaz de orientar-se conforme o gradiente de nutrientes.

A biossemiótica é um paradigma novo da biologia teórica que procura condicionar um novo modo de ver a vida que não seja baseada apenas na organização das moléculas, mas na comunicação de signos na natureza (Emmeche, 1998; Hoffmeyer, 1997).

A vida biológica como um fenômeno desde sua origem deveria ser semiótica, afinal, a produção, transmissão e interpretação de signos não teriam surgido exclusivamente com a espécie humana, mas estariam aqui desde a origem da vida. Na biossemiótica a natureza é vista como repleta de signos e pode ser vista como um programa de pesquisa cujo objetivo é reconstruir uma história natural dos signos, descrevendo a evolução de diferentes sistemas de signos e de interpretação de signos na natureza, desde os sistemas genéticos até a linguagem humana.

Desta forma, fenômenos biológicos poderiam ser considerados semióticos uma vez que sua descrição por diferentes tradições teóricas engloba ideias de codificação, processamento de informação, intercâmbio, interpretação de sinais e assim por diante. A definição da vida pela seleção natural de replicadores poderia também ser vista como uma definição implicitamente semiótica na medida em que faz uso da noção de informação embora muito biossemioticistas discordem, afirmando que o uso de conceitos e teorias da semiótica na interpretação da “linguagem” da informação biológica contribuiria exatamente para sua formulação de maneira precisa e consistente tornando possível entender a vida sob uma perspectiva muito diferente daquela que tem dominado as ciências biológicas desde seu surgimento. Isto engloba as relações mediadas por signos e nos significados de vários agentes semióticos em todos os níveis biológicos, do reconhecimento molecular à distinção de células pertencentes ou não a um organismo, da expressão e regulação genicas à comunicação entre os organismos, da cognição individual à inteligência coletiva de formigas e humanos (Hani, & Videira, 2000).

Então a biossemiótica vai se apresentar como um modelo de estudo de possíveis intérpretes de signos e da capacidade de interpretar signos na natureza a característica distintiva dos sistemas biológicos em relação aos sistemas não-biológicos (não-vivos).

Na biossemiótica então, o que acontece em uma célula é mais do que simples química, sendo necessária a referência (implícita ou explícita) de conceitos como os de código ou informação para a compreensão da organização das relações no metabolismo celular.

Também vale lembrar que na biossemiótica a vida será definida conceitualmente como primária e os organismos, metabolismo, replicação e evolução são secundários em relação aos processos semióticos. Isso traz o seguinte problema: como signos poderiam estar presentes na natureza independentemente da cultura humana?

Em resumo, na biossemiótica, a vida pode ser definida como a interpretação funcional de signos em sistemas materiais auto-organizados (Emmeche, 1998); ou, dito de outra maneira; como uma propriedade de sistemas materiais auto-organizados capazes de utilizar informação afim de realizar funções que favoreçam sua adaptação e sobrevivência.

Por último, a vida ainda poderia ser definida sob a condição de sistemas autônomos com evolução aberta. Nesta proposta traz uma relação entre os sistemas vivos como redes de interações complexas auto-sustentáveis que estão (assim como auto-poiese) sob processos seletivos e evolutivos. Nessas redes aparecem determinados certas informações que podem ser transmitidas as próximas gerações permitindo os seres vivos serem selecionados ao longo do tempo. Entende-se por sistema autônomo aquele que está longe do equilíbrio e se mantém criando uma identidade organização própria fundada em acoplamentos endergônicos-exergônicos (consumidor e produtor de energia). Devido á capacidade de evolução aberta compreende um sistema produzir sua dinâmica funcional e constitutiva que não estão sujeitas a qualquer predestinação superior de complexidade organizacional mesmo com restrições materiais impostas por um ambiente finito e por leis físico-químicas universais (Corrêa et al, 2008).

Este conceito acaba abarcando uma concepção mais ampla recebendo a ideia de rede da autopoiese e da concepção neo-darwiniana.

Seja como for, cotidianamente estamos em contato com seres vivos, e talvez a partir de agora com o auxilio da proto-ciência da astrobiologia e tantos planetas com capacidade de suportar a vida talvez tenhamos um vislumbre sobre qual desses conceitos se aproxima mais do que é a vida em si dentro da ciência.

Victor Rossetti

Palavras chave: NetNature, Rossetti, Vida, Seres vivos, Propriedades, Darwin, Dawkins, Biossemiótica, Auto-poiese, Aristóteles, Vitalismo, Organicismo, Mecanicismo.

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Referências

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