SOBRE AS SUPOSTAS FRAUDES NA EVOLUÇÃO HUMANA – HOMINÍNEOS.

Observando discussões sobre a origem do homem, um dos argumentos contrários a evolução humana é uma lista de supostas fraudes elaboradas pela ciência para justificar nossa origem a partir dos grandes primatas. Duas características me chamam a atenção no elenco das supostas fraudes: a ausência de referências científicas sobre os hominíneos citados; e, por consequência, a quantidade de erros conceituais básicos sobre tais hominíneos e de biologia evolucionária básica.

Quando pretendemos criticar uma tese – científica ou não – o mínimo que devemos conhecer é o que exatamente o outro defende. Não faz sentido erguermos uma discussão sobre a validade da teoria da evolução, por exemplo, se as críticas são feitas partem de uma concepção saltacionista como sinônimo de evolução. Se pretendemos criticar a tese que relaciona evolutivamente dinossauros Theropodes e aves não podemos erguer críticas levianas correndo com a ideia de que “dinossauros viraram canários”. Isto e chama reductio ad absurdum: sintetizar a tese de forma reducionista criando uma versão caricata que em nada confere com o argumento original. A realidade é que o movimento que nega a teoria da evolução reduz a tese e ergue concepções erradas intencionalmente e dissemina tais falácias como se fossem cientificamente justificadas. Por esta razão, consultar as fontes é um elemento importante na busca da verdade e na identificação dos trapaceiros.

O primeiro passo – o mais honesto de todos – para uma discussão intelectualmente rica é conhecer integralmente as ideias do oponente.

Acredito que todos que discutem evolução, em especial a humana, já tenham se deparado com a alegação e uma lista de supostas fraudes elaborada pelos evolucionistas para explicar a origem do Homo sapiens. Aqueles que nunca se depararam com a lista completa, ao menos uma vez já ouviu falar na fraude do homem de Piltdown.

Uma característica muito interessante destas listas é que elas carregam erros conceituais básicos e raramente apresenta as referências científicas consultadas. Algumas nas quais citam referências científicas geralmente seguem artigos que não negam a teoria da evolução e que afirmam o exato oposto do que é afirmado pelo autor da lista. Não é incomum as listas serem construídas a partir da distorção dos dados de artigos científicos.

Há alguns anos uma lista de 330 questões que supostamente os biólogos evolucionistas não sabiam responder começou a aparecer em discussões: muitas destas questões eram repetidas e partiam de conceitos errados e distorcidos, e como esperado, a maioria delas tinha respostas claramente publicadas em artigos. Certamente estes artigos não foram consultados, e as perguntas foram apresentadas como se fossem verdades absolutas. Na época o NetNature se deu o trabalho de responde-las: você pode acompanhar aqui.

Outro exemplo é a lista aqui apresentada que foi retirada de um blog de procedência duvidosa no que diz respeito a questões científicas. O blog denominado “Verdade Eterna” listou uma série de supostas fraudes no ano de 2007 com o título “Fraudes do Homem-Macaco – Fósseis Desmascarados Até Agora“. Porém, apenas um item da sua lista é de fato uma fraude, mas a história é mais complexa do que o apresentado no site.

Convém então tratar de desmistificar os pressupostos desta lista, onde são apresentados (entre as aspas e conservando seus erros gramaticais) de forma resumida os argumentos usados para justificar as alegações de fraudes. Abaixo discorro sobre o assunto.

O Homem de Nebraska

“Teve sua imagem reconstituída a partir de um dente com idade estimada de um milhão de anos. Após quatro anos e meio, descobriu-se que aquele dente na verdade pertencia a uma espécie de porco já extinta”.

A imagem formada pelo Homem de Nebraska, ao qual os criacionistas invariavelmente se referem, foi elaborada por um ilustrador que estava colaborando com o cientista Grafton Elliot Smith, e foi feito para uma revista popular britânica, não para uma publicação científica.

Além do autor, nenhum outro cientista afirmou que o Homem de Nebraska era um ancestral humano. Alguns cientistas, incluindo Henry Fairfield Osborn (1922) – paleontólogo e presidente do Museu Americano de História Natural – identificaram o dente como pertencente a um primata avançado, mas nada além disto. O dente era de um pecari, animal da família Tayassuidae onde estão classificados os porcos, queixada e o caititu.

De fato, Osborn evitou especificamente qualquer afirmação extravagante sobre o fóssil recém-achado, especialmente quanto a trata-lo como um homem-macaco ou ancestral humano. Os outros cientistas eram completamente céticos quanto ao fóssil mesmo com a afirmação mais modesta de que o dente pertencia a um primata. Simplesmente não é verdade que o Homem de Nebraska foi amplamente aceito como um homem-macaco, ou mesmo como um macaco, pelos cientistas.

Os criacionistas muitas vezes ridiculizam a ilustração do homem de Nebraska a partir das ilustrações feitas por Amedee Forestier para as Illustrated London News (Smith, 1922). Eles apontam com razão que um animal não pode ser reconstruído de um dente, como de fato os cientistas daquela época já tinham pleno conhecimento disto. O desenho nunca foi uma reconstrução científica e jamais foi pretendido ter tal função.

Smith, em seu livro The Evolution of Man (1927) também reconheceu que o dente era “questionável” e um fóssil duvidoso. Ele admite que:

“A sugestão de que o dente de Nebraska (Hesperopithecus) possivelmente possa indicar a existência da humanidade nos primeiros tempos do Plioceno é, como eu expliquei no Prefácio, ainda totalmente uma mera tentativa. A afirmação de que homens reais existiam nos tempos do Plioceno e do Mioceno deve ser considerada uma mera hipótese ainda não suportada por qualquer evidência adequada”. (Smith, 1927)

Os criacionistas muitas vezes afirmam que o homem de Nebraska foi usado como prova de evolução durante o ensaio do Monkey Scopes em 1925, (“Julgamento do Macaco”), mas essa afirmação é anedótica. Nenhuma evidência científica foi apresentada no julgamento do professor Joshn Scopes. Algumas evidências foram lidas no registro do julgamento, mas não se referiam ao homem da Nebraska.

O homem de Nebraska não deve ser considerado um constrangimento para a ciência. Alguns cientistas envolvidos quase foram enganados, um tanto imprudentes, mas capazes de perceber erro; e não foram desonestos. O episódio inteiro foi realmente um excelente exemplo do processo científico. Foi reconhecida uma identificação problemática, os cientistas céticos investigaram ainda mais o fóssil e encontraram dados que falsearam as ideias anteriores.

O Homem de Java

“É bem conhecido o fato de que quando foi descoberto em 1891 o “primitivo” homem de Java, na realidade sendo imaginado a partir de um fêmur, uma caixa craniana e três dentes molares. O mais interessante é que esses itens não foram encontrados no mesmo local e ao mesmo tempo. O fêmur foi encontrado a quinze metros da caixa craniana. Um dos dentes foi encontrado a três quilômetros do fêmur e do crânio. Dois outros crânios foram encontrados na mesma formação, e com a mesma idade, os quais não eram diferentes de crânios de aborígenes australianos que vivem hoje. As notícias dos crânios modernos encontrados com o homem de Java não foram publicadas por vinte anos, porque não se ajustavam às ideias preconcebidas do pesquisador”.

O primeiro passo é destacar que este fóssil não é uma farsa, assim como o homem de Nebraska e os demais (exceto Piltdown). Existe uma tendência criacionista em denominar como “fraude” os fósseis em que sua delimitação taxonômica foi difícil de ser alcançada – ou é controversa devido a ignorância que temos sobre o achado – especialmente porque foram descobertas há muito tempo atrás quanto os métodos de verificação eram mais rudimentares.

O homem de Java é o nome dado ao conjunto de fósseis descobertos em 1891 próximo ao rio Solo, na região de Trinil em Java (Indonésia) e foi considerado um dos primeiros espécimes do Homo erectus inicialmente classificado com outro nome e imediatamente controverso. De fato, até o final da década de 1890, quase 80 publicações haviam discutido sua posição filogenética (Swisher et al, 2000). Portanto, não é verdade que nada sobre o homem de Java foi publicado durante 20 anos.

Seu descobridor, Eugène Dubois encontrou apenas o topo de um crânio com características símiescas antropomorfas, um fêmur e alguns dentes. Alguns cientistas afirmam que o fêmur havia sido encontrado a cerca de doze metros distante dos outros ossos e que são de um homem moderno embora o consenso dos estudos indique que seja de um Homo erectus. Posteriormente, em 1936, um segundo espécime mais completo foi descoberto na vila de Sangiran, a 18 km de Solo. Esta segunda descoberta foi feita pelo paleontólogo berlinês von Koenigswald. Outras descobertas foram feitas mais tarde no sítio em Sangiran, apesar de serem oficialmente consideradas pobres e de pouca relevância (Neves et al, 2015).

Quando Dubois começou a procurar ao longo do Rio Solo em 1891 encontrou próximo a Trinil um molar (chamado de Trinil 1) e um osso do calcanhar (Trinil 2). O crânio possuía uma longa quilha sagital e Dubois primeiro lhes deu o nome Anthropopithecus, ou “homem-macaco”, como o chimpanzé era conhecido na época. Ele escolheu esse nome porque um dente semelhante encontrado nas colinas de Siwalik na Índia em 1878 tinha sido nomeado com este mesmo nome e porque o crânio era o mais semelhante a um símio de grande porte do que humano.

Em agosto de 1892, a equipe de Dubois encontrou um fêmur com a forma humana no mesmo local, 12 metros ao lado. Cogitou que os três fósseis pertenciam a um único indivíduo, por não se repetirem e estarem na mesma camada estratigráfica – provavelmente uma mulher muito idosa, renomeando a espécime como Anthropopithecus erectus (de Vos, 2004). No final deste mesmo ano, quando determinou que o crânio media cerca de 900 centímetros cúbicos, Dubois considerou que seu espécime era uma forma de transição entre os outros primatas de grande porte e o primata humano (Swisher et al, 2000), uma noção comum naquela época – de que um único fóssil representaria o “elo perdido”.

Em 1894, ele renomeou então a espécie como Pithecanthropus erectus (primata-homem ereto), emprestando o nome do gênero Pithecanthropus de Ernst Haeckel, que o cunhou alguns anos antes para se referir a um suposto “elo perdido” entre os antropóides e humanos (Swisher et al, 2000).

Conforme o tempo foi passando, e descobertas foram sendo feitas, as semelhanças entre Pithecanthropus erectus (Homem de Java) e Sinanthropus pekinensis (O Homem de Pequim, descoberto em 1923/27) levaram Ernst Mayr a renomea-lo como Homo erectus em 1950, colocando-os diretamente na árvore evolutiva humana. Para distinguir o homem de Java de outras populações de Homo erectus, alguns cientistas começaram a considerá-lo como uma subespécie, Homo erectus erectus na década de 1970. Isto significa claramente que de acordo com os estudos de anatomia comparada com outros fósseis pertencentes a mesma espécie, o homem de Java apresentava uma anatomia específica de Homo erectus. Outros fósseis encontrados na primeira metade do século XX em Java em Sangiran e Mojokerto, que eram mais antigos que os encontrados por Dubois, também foram classificados como Homo erectus.

Mayr apresentou sua conclusão no Cold Spring Harbor Symposium em 1950 (Schmalzer, 2008), e incluiu não só Sinanthropus e Pithecanthropus, mas também Plesianthropus, Paranthropus, Javanthropus e vários outros gêneros como sinônimos argumentando que todos os ancestrais ​​humanos faziam parte de um único gênero (Homo) e que nenhuma espécie de homem existia na Terra neste momento (Delisle, 2007). Mayr promoveu uma revolução na taxonomia na evolução humana foi rápida e claramente aceita (Boaz et al, 2004). Começava a ficar claro que a humanização dos símios de grande porte não tinha um exemplar que representava um “elo perdido” e que tal transição se deu gradualmente e a longo-prazo a partir de uma série de espécies.

Com o desenvolvimento da paleoantropologia em 1950 até a década de 1970, o gênero africano Australopithecus foi aceito na árvore evolutiva da espécie humana (Schmalzer, 2008). Ao mesmo tempo, na década de 1970, uma tendência se desenvolveu em considerar a variedade javanesa de H. erectus como a subespécie Homo erectus erectus, sendo a variedade chinesa chamada Homo erectus pekinensis (Sartono).

Usando apenas os fósseis de Trinil, as datações de Java indicaram a existência do indivíduo entre 900 mil e 1 milhão de anos. Um trabalho publicado em 2014 revisando o homem de Java oferece uma idade máxima entre 540 mil anos e a mínima de 430 mil anos para datação feita com Ar-Ar e por luminescência de sedimentos no material humano de Trinil (Dennell, 2009)

Desde então muitas espécies que foram encontradas e classificadas de acordo com o local em que foram efetuados os achados, ou de acordo com o papel que tinham para a evolução humana. Posteriormente, muitas supostas espécies encontradas foram agrupadas dentro da espécie Homo eretus. Dentre os exemplos temos o Homo ergaster (o Turkana boy), que representa o Homo erectus que saiu da África para colonizar a Ásia e Europa a cerca de 1,5 milhão de anos (Neves et al, 2015) e pode ser considerado um Homo erectus ergaster. Outros exemplos são: Homo erectus erectus, H. e. georgicus, H. e. lantianensis, H. e. nankinensis, H. e. palaeojavanicus, H. e. pekinensis, H. e. soloensis, H. e. tautavelensis e H. e. yuanmouensis (Neves et al, 2015)

Portanto, o achado do Homem de Java não é uma fraude, ele não foi forjado e não está solto na filogenia humana. Ele pertence ao grupo dos H. erectus.

Homo Habilis

“Em 1963 o Dr. Leakey descobriu o fóssil humano que denominou de “Homo habilis”, no mais baixo nível dos estratos, em flagrante contradição com os conceitos evolucionistas, pois o Homo habilis era semelhante ao homem moderno”.

O Homo habilis tem particularidades mais próximas ao Homo erectus. De fato, a linhagem dos H. habilis está relacionada diretamente a espécie humana na medida em que representa o mais antigo representante do gênero Homo (Veja:  A ORIGEM DO GÊNERO Homo E AS POSSÍVEIS TRANSIÇÕES).

Novamente, a questão não é de fraude, mas relacionada a classificação dos fósseis quanto a seu índice de relacionamento filogenético. H. habilis e H. erectus são considerados espécies distintas de hominíneos.

Além disto, o Homo habilis compartilha características que se alinham claramente com australopithecineos, além das datações se aproximarem. LD 350-1 é um fragmento de maxila fóssil descoberto em 2013, datado de 2,8 milhões de anos atrás e argumenta-se que possa ser intermediário entre Australopithecus e H. erectus (Villmoare et al, 2015)

De fato, em sua aparência e morfologia, o H. habilis é o menos parecido com os humanos modernos dentre todas as espécies. No gênero Homo (exceto o igualmente controverso H. rudolfensis), sua classificação tem sido objeto de debate controverso desde a sua primeira proposta na década de 1960 (Collard & Wood, 1999).

Longe de ser uma fraude, o Homo habilis continua sendo o representante mais antigo do gênero Homo com características australopitecíneas e que pode compartilhar um ancestral comum com o Homo erectus ou ser seu ancestral direto.

O Homem de Neanderthal

“O homem de Neanderthal constitui uma história à parte. Ao ser feita a primeira descoberta em 1856, os cientistas pensaram que tinham afinal conseguido a suprema evidência de que necessitavam para demonstrar o estágio intermediário entre o homem e o macaco.  Em 1872 outra autoridade médica declarou que os crânios Neanderthal apresentavam problemas médicos, e que poderiam ser achados crânios semelhantes do homem moderno em qualquer escola de medicina”.

Como se sabe, os Neandertais não são falsificações. Há mais de 300 fósseis de Neandertais devidamente estudados ou sendo pesquisados no momento, sendo classificados e catalogados pelos cientistas. No ano de 2016 publicou-se muitos artigos sobre este hominineo. Eles permitem, inclusive, datar a origem e extinção do grupo a partir de amostras de DNA, diferencia-los da espécie humana e encontrar evidências de cruzamento entre nossa espécie (Homo sapiens) e sua os Neandertais. A alegação de que os fósseis de Neandertais são falsificações é falsa, e de que seja ancestral do Homo sapiens também. O Neandertal e o homem moderno compartilham um ancestral comum, provavelmente o Homo heidelbergensis (Neves et al, 2015).

De fato, o registro paleoantropológico sobre Neandertais é tão rico que permite traçar até aspectos sociais e comportamentais da espécie. Nunca se estudou tanto os Neandertais quanto atualmente, sendo um dos hominíneos mais bem compreendidos. Deixo aqui uma lista de textos de divulgação emitidos pelo NetNature sobre os Neandertais com as devidas referências científicas: QUEM ERAM OS NEANDERTAIS? – ORIGENS E ANATOMIA NEANDERTALENSE; QUEM ERAM OS NEANDERTAIS? – PRINCIPAIS ACHADOS PALEOANTROPOLÓGICOS; QUEM ERAM OS NEANDERTAIS? – A GENÉTICA NEANDERTAL E DENISOVANA; QUEM ERAM OS NEANDERTAIS? – CULTURA, COMPORTAMENTO E TECNOLOGIA; QUEM ERAM OS NEANDERTAIS? – A EXTINÇÃO; DNA DE NEANDERTAIS EM ‘HOMO SAPIENS’ VEIO DO MESMO ANCESTRAL E NÃO DE CRUZAMENTO e O NEANDERTAL ERA UM Homo sapiens?

Alguns dos fósseis de Neandertais encontrados apresentavam algum problema de saúde ou odontológico, mas eram anatomicamente (e geneticamente) pertencentes a espécie Neandertal. Observando estruturas cranianas e pós-cranianas, e até mesmo em DNA é possível saber quando um fóssil é Neandertal e quando é Homo sapiens.

O Homem de Cro-Magnon

“Segundo o dr. Duane T. Gish, professor de ciências naturais e apologética, o chamado Homem de Cro-Magnon passaria despercebido por nossas ruas se usasse a moda corrente, ou seja, nele não há nada de símil”.

De fato, se os Cro-Magnons andassem em nossa direção atualmente, especialmente na Europa, passariam despercebido nas ruas pelo simples fato de que o grupo pertence a espécie humana. Ele é claramente um Homo sapiens, e desde sua descoberta foi assim classificado.

Os primeiros registros reconhecidos de seres humanos na Europa – informalmente chamados de Cro-Magnon – datam entre 45 e 43 mil anos, descobertos na Itália (Benazzi et al, 2011), Grã-Bretanha (Higham et al, 2011) e restos encontrados daqueles que chegaram ao Rússia, Leste Europeu e Ártico há 40 mil anos.

O nome Cro-Magnon deriva do local de “Abri de Cro-Magnon” e significa: abri = pedra, cro = cavidade e magnon = dono da terra. O nome foi dado graças a região de Les Eyzies-de-Tayac-Sireuil, no sudoeste da França, onde o primeiro espécime foi encontrado (Don´sMaps) representando os humanos modernos conhecidos mais antigos (Homo sapiens sapiens) na Europa. Os Cro-Magnons são desde o início ligados as conhecidas pinturas rupestres e a cultura aurignaciana de Lascaux, cujos registros eram bem conhecidos do sul da França e da Alemanha.

Claramente, o Cro-magnon não corresponde a uma falsificação, como pertence a espécie humana é claramente um Homo sapiens, que biologicamente é classificado como um antropóide ou símios de grande porte. O próprio autor do questionamento ressalta sua validade científica.

O Homem de Piltdown:

“Foi uma fraude forjada por Charles Dawson a partir de um fragmento de maxilar, dois dentes e um fragmento de crânio. A fraude foi descoberta quarenta anos mais tarde”.

Aqui de fato temos uma fraude, e a questão é: quem está por traz dela? A história e mais complexa do que simplesmente apontar para Dawson. A fraude consistia em restos fossilizados de uma espécie de homem primitivo; mas o fóssil foi forjado colocando uma mandíbula de orangotango a um crânio humano e dentes de outros animais. Segundo os relatórios, também foi utilizada uma lima para desgastar os dentes e processos químicos a fim de parecerem mais velhos.

Em uma reunião da Sociedade Geológica de Londres em 18 de dezembro de 1912, Charles Dawson afirmou que um trabalhador no poço do cascalho Piltdown havia lhe fornecido um fragmento do crânio quatro anos antes (1908). De acordo com Dawson, trabalhadores locais encontraram o crânio pouco antes de sua visita. Revisitando o sítio em várias ocasiões, Dawson encontrou mais fragmentos do crânio e levou-os para Arthur Smith Woodward, do departamento de geologia do British Museum. Woodward acompanhou Dawson ao sítio e embora os dois tenham trabalhado juntos entre junho e setembro de 1912, Dawson sozinho recuperou mais fragmentos de crânio e metade do osso inferior do maxilar.

Quando o engano foi exposto, ninguém sabia quem era o autor da farsa, e ninguém confessou a ação. Além disto, Dawson já estava morto, desde 1916. Durante quarenta anos, especulou-se muito sobre a identidade do culpado e ao longo dos anos uma lista de suspeitos se acumulou. Cada suspeito poderia ter uma série de possíveis motivos e oportunidades para construir a falsificação.

Um dos fatores críticos em qualquer teoria é explicar o fato de que o falsificador deve ter certeza de que os fósseis seriam encontrados. Isso sugere que Dawson, Teilhard ou Woodward estiveram envolvidos, uma vez que eles fizeram os achados iniciais.

Outro fator crítico que deve ser considerado é o acesso aos espécimes que foram usados na farsa. Da mesma forma, a questão da habilidade e do conhecimento necessários para o engano deve ser levada em consideração.

Dawson é, então, o suspeito óbvio, pois ele estava presente na descoberta inicial dos dois fragmentos de crânio de Piltdown I e posteriormente em sua segunda descoberta, Piltdown II. Entretanto, Pierre Teilhard de Chardin era jesuíta, paleontólogo, teólogo e amigo de Dawson.

Em 1908, Chardin voltou para a Inglaterra para estudar teologia na cidade de Hastings, perto de Piltdown. Ele leu o livro de Henri Bergson “Creative Evolution” (1907) e chegou a ideia de que a evolução é impulsionada, não por seleção natural, como Darwin postulava, mas por uma Élan vital, ou força vital; e assim construiu sua própria visão de que o próprio cosmos está evoluindo (evolucionismo teísta – uma versão religiosa e não científica) (KahnAcademy).

Em um ensaio denominado “Piltdown Revisited” reimpresso no livro “The Panda’s Thumb“ o paleontólogo e divulgador de ciência Stephen Jay Gould argumenta sobre o caso e aponta Teilhard de Chardin como cúmplice de Dawson. Os defensores de Dawson já sustentavam que algum cientista mais profissional deve ter estado envolvido no mínimo como cúmplice porque os achados foram engenhosamente falsificados.

Stephen Jay Gould se comunicou com contemporâneos e colegas científicos de Chardin, incluindo Pierre P. Grassé e J. Piveteau, na qual rejeitaram a ideia da cumplicidade. Père Francois Russo enviou uma cópia da carta que Teilhard escreveu para Kenneth P. Oakley depois que este expôs a fraude.

A ideia é que tal documento atenuasse as dúvidas de Gould quanto a participação de Chardin na fraude, mas o efeito foi contrário. Na carta, Chardin supostamente vacilou em suas palavras. Gould visitou Kenneth Oakley na Inglaterra em 16 de abril de 1980, que lhe mostrou documentos adicionais de Chardin. Para Gould, as evidências apontam claramente para Chardin como o coordenador da farsa de Piltdown com Dawson. Chardin começa a carta expressando satisfação pela descoberta da farsa:

“Felicito-o com sinceridade pela sua solução do problema de Piltdown … Estou profundamente satisfeito com suas conclusões, apesar do fato de que, sentimentalmente falando, isso prejudica um dos meus mais brilhantes e as mais antigas memórias paleontológicas”.

Para Gould, Chardin acaba vacilando e deixando escapar sua própria admissão, ao sugerir que todo o caso poderia ter um simples acidente gerado quando um colecionador amador jogou fora alguns ossos do macaco em um fosso que continha também alguns fragmentos de crânio humano. De fato foi isto que tinha acontecido. Entretanto, Chardin não diz como tal hipótese poderia representar o mesmo tipo de associação a duas milhas de distância no segundo sítio de Piltdown.

Para Gould, este foi o vacilo de Chardin; em sua descrição sobre como o segundo Piltdown foi encontrado:

“Ele apenas me trouxe para o local do sítio 2 e me explicou (sic) que ele encontrou o molar isolado e os pequenos pedaços de crânio nos cascalhos e seixo espalhados na superfície do campo”.

Para Gould é notável que Dawson levou Chardin para o segundo sítio para uma viagem de prospecção em 1913. Ele também Levou Smith Woodward lá em 1914, mas nenhuma das visitas conduziu a qualquer descoberta no segundo sítio até 1915. Dawson escreveu a Smith Woodward em 20 de janeiro de 1915 para anunciar a descoberta de dois fragmentos cranianos. Posteriormente, em julho de 1915, ele escreveu novamente com boas notícias sobre a descoberta de um dente molar. Smith Woodward assumiu que Dawson tinha desenterrado os espécimes

Em 1915 (Weiner, p. 144) Dawson ficou seriamente doente e morreu de septecemia em agosto de 1916. Smith Woodward nunca obteve informações mais precisas dele sobre o local do segundo achado. O ponto condenatório de Chardin é quando ele afirma explicitamente, na carta citada acima, que Dawson disse-lhe sobre o dente e os fragmentos de crânio do segundo sítio. Claude Cuénot, biógrafo de Chardin afirma que Chardin foi convocado para serviço em dezembro de 1914, e sabemos que ele estava lá em 22 de janeiro, 1915. Então, se Dawson só descobriu oficialmente o molar em julho de 1915; como poderia Chardin saber da descoberta do molar, sua localização exata da descoberta quando, na presente data, estava a serviço militar?

Em segundo lugar, Chardin declara em sua carta a Oakley que ele não conheceu Dawson até 1911:

“Eu conheci Dawson muito bem, desde que trabalhei com ele e Sir Arthur três ou quatro vezes em Piltdown (depois de uma reunião casual em uma pedreira perto de Hastings em 1911)”.

No entanto, Chardin conheceu Dawson durante a primavera ou no verão de 1909, pois Dawson apresentou Chardin a Smith Woodward. Chardin inclusive mostrou a Smith uma série de fósseis que encontrou, incluindo um dente raro de um mamífero primitivo, no final de 1909.

Salienta-se que é muito evidente que Chardin, um evolucionista teísta possa ser o mentor da fraude.

Homem de Ramapithecos:

“Era apenas um orangotango…sem comentários”.

Ramapithecus é um extinto gênero de primatas de grande porte. Em 1932 George Edward Lewis encontrou partes do osso maxilar superior e vários dentes eram na área de Siwaliks (Himalaia) e, em 1934, descreveu-o cientificamente (Edward, 1934).

O Ramapithecus foi datado entre 14 e 8 milhões de anos (Facchini, 2006) e tem algumas semelhanças com a dentição humana, apenas isto. Isto se dá porque as superfícies de mastigação dos dentes molares e pré-molares achatados eram menos pontiagudas do que a de muitos primatas.

Devido estas características, foi cogitado em 1961 por Elwyn L. Simons como um fóssil que poderia representar um indivíduo de transição ligado a evolução humana (Elwyn, 1961). Em 1965 Simons juntamente com seu ex-aluno David Pilbeam sugeriram que Ramapithecus poderia ter sido bípede (Elwyn, 1965). Após 1976 Pilbeam analisou uma mandíbula que demonstrou que os fragmentos de maxilas dos primeiros fósseis foram reconstituídos de forma imprecisa e que o fóssil não pertencia a um ancestral humano direto (Pilbeam et al, 1977). Portanto, apesar de cogitar a possibilidade, os pesquisadores aguardaram mais evidências para sustentar a tese. Como as evidências não indicaram relacionamento filogenético, a espécie foi descartada da linhagem humana. Com a descoberta de novos fósseis a classificação taxonômica do Ramapithecus se tornou controversa. Certamente, mas ainda não definitivamente, a espécie seja a idêntica ao Sivapithecus, e alguns pesquisadores sugerem o Ramapithecus como a forma feminina de Sivapithecus (Facchini, 2006). Se Sivapithecus masculino e Ramapithecus fêmeas representarem a mesma espécie, o nome genérico Sivapithecus será oficializado abrangendo todos os membros dos dois grupos uma vez que o nome foi criado em 1910 por Guy Ellcock Pilgrim (1875-1943).

Em 1981, quando novas descobertas de símios fósseis na Turquia e Paquistão indicaram que o Ramapithecus era possivelmente um membro do gênero Sivapithecus, descobriu-se que é possível que o fóssil seja o ancestral do orangotango. Este dado é importante, mas ignorado intencionalmente por criacionistas para dar a impressão de que os cientistas forjam fósseis mesclando-os (como ocorreu no caso Piltdown) ou erraram (propositalmente) e portanto, todos os fósseis estão errados ou são forjados.

O caso do Ramapithecus é interessante porque mediu o poder de precisão da ciência paleontológica em conseguir separar espécies que apresentam características em comum mas se concentrando no que as diferenciava. Ao contrário do comentário, o Ramapithecus não é um orangotango, e sim um provável ancestral dos orangotangos. Os dentes molares dos orangotangos oferecem uma estrutura única, comparável aos molares humanos.

Pondigae e Hominidae – Nodopedalia e bipedismo. Neves et al, 2015

Como dito, as superfícies de mastigação dos dentes molares e pré-molares achatados dos Ramapithecus (ancestrais de orangotangos) eram menos pontiagudas do que a de muitos primatas. Além disto, se observarmos a filogenia, o caráter 1´, refere-se a nodopedalia, uma forma primitiva (plesiomórfica) de caminhar dentro da família; e o 1´´ refere-se a bipedia, que é uma característica derivada (apomorfia) e que caracteriza a linhagem humana (Neves et al, 2015).

O caráter 2´ refere-se ao espessamento do esmalte dentário que ocorreu de modo independente em duas linhagens, humana e dos orangotangos (chamada de homoplasia) (Neves et al, 2015). Assim sendo, o homem e o orangotango têm várias características comuns em sua dentição, por isto tal confusão ocorreu durante a descoberta de Ramapithecus (possível ancestral dos orangotangos).

Com o passar do tempo e dos estudos a ignorância sob o fóssil de Ramapithecus foi diminuindo e as possibilidades dele ser o ancestral do homem se anularam mediante novas evidencias. A ciência paleontológica se corrigiu, e como de praxe, não houve fraudes.

Homem de Pekin:

“Foi encontrado em 1912 e 1937 por David Bolak, em Pekin, China. O descobrimento consistia de 30 caveiras e 147 dentes. Atualmente alguns crêem que estes ossos eram simplesmente os restos de alguns macacos de tamanhos avantajados que os trabalhadores de uma pedreira haviam matado para saciar a fome”.

A principal falha de argumentação do trecho acima (e de seus argumentos em geral) é que o autor declara que todos os fósseis citados são fraudulentos, mas apresenta argumentos que nos mostram que não houve fraude e sim um entendimento incompleto dos fósseis, limitado pela ignorância sobre a classificação do grupo. Além disto, não usa referências científicas para pontuar as supostas falhas dos registros fósseis, deixando expor que a afirmação de que houve fraude é meramente uma posição negacionista pessoal, informal não suportada pelos fatos.

O autor declara que a evolução é uma fraude, contudo, defende que o homem de Pequim nada mais é que um macaco que foi identificado de forma errada. Neste caso, se assim fosse, não representaria uma fraude, mas um erro taxonômico. Um fóssil pode ser erroneamente classificado como um primata A e não o primata B sem que isto confira uma fraude.

Infelizmente para os criacionistas, neste caso (bem como nos outros), o homem de Pequim não é uma fraude e tão pouco foi erroneamente classificado como um mero “macaco”.

O homem de Pequim é uma variedade da extinta espécie Homo erectus e foi descoberto durante escavações nos anos de 1923 a 1927. Entre 1929 e 1937 foram descobertos 15 crânios parcialmente preservados, 11 mandíbulas, dentes diversos, alguns ossos pós-cranianos e um grande número de ferramentas líticas na Gruta Inferior na Localidade 1 do sítio na caverna de Zhoukoudian.

A descoberta foi feita pelo geólogo sueco Johan Gunnar Andersson e o paleontólogo norte-americano Walter W. Granger que foram a caverna de Zhoukoudian em busca de fósseis pré-históricos em 1921. O trabalho de escavação iniciado pelo paleontólogo assistente de Andersson, Otto Zdansky encontrou o que parecia ser um molar humano fossilizado. Com o passar dos anos os materiais encontrados nas duas escavações subseqüentes foram enviados para a Universidade de Uppsala, na Suécia, para análise. Em 1926, Andersson anunciou a descoberta de dois molares humanos neste material, e Zdansky publicou suas descobertas (Swinton, 1976).

Como de praxe, na época foram inicialmente classificados como Sinanthropus pekinensis, posteriormente, com o decorrer das descobertas e análises cranianas e pós-cranianas ele foi enquadrado como uma variedade, o Homo erectus pekinensis. O volume craniano deste hominíneo era próximo ao do Homo sapiens, (respectivamente 1225 cm3 e nossa espécie com 1350 cm3) (Neves et al, 2015). Nunca foi dito que o Homem de Pequim era um mero “macaco”.

Saiba mais em: Homo erectus – UM MOSAICO NA EVOLUÇÃO HUMANA.

Homo rudolfensis.

“Dr. Timothy Bromage, paleoantropólogo e professor adjunto de Biomatérias e de Ciência Básica e Biologia Crânio-facial, mostra um crânio de 1.9 milhões de idade pertencente à espécie Homo rudolfensis, o membro mais antigo do gênero humano, com um crânio surpreendentemente pequeno e uma mandíbula distintamente protuberante, características comumente associadas com macacos do que com os legendários hominídeos. Especificamente, ele é o primeiro cientista a produzir uma reconstrução do crânio que questiona a representação do ancestral direto mais antigo do homem moderno do renomado paleontólogo e arqueólogo Richard Leakey… Geralmente as reconstruções dos antigos hominídeos são apresentadas tipicamente sem ou quase nenhuma explicação dos princípios nos quais os diversos ossos são reorganizados. Sim, pura especulação…”.

O crânio de Homo rudolfensis (denominado KNM-ER 1470) foi encontrado em Koobi Fora (Quênia), no ano de 1972, por Bernard Ngeneo e datado em 1,9 milhões de anos. O H. rudolfensis apresenta diversas características ancestrais e derivadas: caixa craniana com grande capacidade cerebral (cerca de 750 cm3); molares e pré-molares grandes além de uma espessa camada de esmalte, propícios para triturar alimentos mais duros e fibrosos; a face é aplainada e a parte abaixo do nariz apresenta um leve achatamento.

Foi interpretado como sendo um grande H. habilis macho, porém quando comparado, o crânio não se enquadra nos limites de variação do H. habilis, pertencendo desta forma à uma outra espécie do gênero Homo (Ib USP).

Alguns pesquisadores sugerem ainda que o H. rudolfensis se aproxima do gênero Kenyanthropus sendo assim uma espécie nova denominada Kenyanthropus rudolfensis (Neves et al, 2015).

Suas características estão associadas a H. habilis e não a “macacos”, apresentando características anatômicas claramente bípedes; macacos não são bípedes e os outros símios antropomorfos também não. Os únicos primatas bípedes integralmente são aqueles filogeneticamente relacionados ao Homo sapiens, ou seja, membros ligados a evolução humana.

Para reconstrução feita por Bromage, os pesquisadores usaram uma combinação de um molde deformável e modelos gerados por computador para criar réplicas do crânio do KNM-ER 1470 que poderiam ser moldadas. Bromage disse que a reconstrução original baseou-se em preconceitos de concepções antigas do H. rudolfensis e uma série de dados que atualmente são atualizados eliminando incertezas do passado. O resultado, foi um crânio que compartilha várias características em comum com humanos modernos, incluindo um rosto relativamente plano e um grande molde cerebral.

Não importa se o animal é um rato ou um elefante, seus traços faciais estão todos organizados em um plano arquitetônico. O que Bromage fez foi distribuir os sentidos de uma maneira muito específica, para modelar as proporções faciais. Isto vale para todos os mamíferos, inclusive outros hominíneos que foram modelados por paleo-artistas (Live Science, 2007)

A nova construção parecia mais simpática devido a uma rotação exagerada do crânio e a capacidade craniana com base na construção nova foi estimada em 752 cm³. Os olhos, orelhas e boca seguiram estimativas comuns em mamíferos (Live Science, 2007 & Bromage, 2008).

Os antropólogos forenses usam técnicas similares de computador a das equipes de polícia para reconstruir estruturas faciais e corporais dos humanos em crânios quase completos de ancestrais. Este foi o caso do Sahelanthropus tchadensis, que permitiu que os pesquisadores reconstruíssem rostos reais de como os ancestrais poderiam ter parecido (Live Science, 2007).

Em uma primeira colaboração com um cientista em uma reconstrução que ocorreu em 1998, Jean-Nöel Vignal, o paleoantropólogo e ex-chefe do Instituto Forense de Pesquisa Forense em Paris, reconstruiu um Neandertal da   caverna La Ferrassie (França). Vignal desenvolveu os programas de modelagem computacional utilizados para estimar a espessura muscular e da pele. A detecção forense, é um excelente guia por se aproxima da reconstrução de como um investigador reconstitui uma vítima de homicídio. Claro, não há um método científico para prever a raiva, o encantamento ou o amor que poderiam expressar os Homo erectus. Entretanto, para expressões faciais, os paleo-artistas acompanham a intuição baseada na família dos hominídeos, nas pesquisas publicadas e na conversa com os pesquisadores (Smithsonian, 2014)

Homem floresienses:

“Há indícios de que o Homo floresienses tenha existido a apenas 12 mil anos atrás. E seu reduzido tamanho seja devido a uma variação tipo pigmeu”.

O Homo floresiensis viveu na Ilha de Flores (Indonésia) e dentre os fósseis mais recentes incluem um dente e mandíbula parcial que sugerem que esses membros do gênero humano chegaram à ilha Indonésia cerca de 700 mil anos atrás (van den Bergh et al, 2016). Inicialmente acreditava-se ter vivido até há 13 mil anos (Science News, 2006) como destacado acima, no entanto, análises publicadas em 2016 revelaram que a espécie desapareceu há cerca de 50 mil (Science News, 2016).

A colonização da ilha de Flores pelo homem moderno deu-se posteriormente, há cerca de 35 mil anos, o que implica que não houve interação entre H. floresiensis e H. sapiens em Flores.

Inicialmente, a forma dos fósseis foi interpretada sugerindo que eles eram derivados de uma população de H. erectus que chegou a Flores cerca de 1 milhão de anos atrás (como indicado pelos artefatos mais antigos escavados na ilha) e rapidamente ganhou uma pequena estatura vítima do nanismo insular (van den Bergh et al, 2016). Em 2015, foram publicados os resultados da análise Bayesiana, que utilizaram mais de 300 características morfológicas de hominíneos fósseis; a análise foi incapaz de distinguir entre as diferentes árvores de hominíneos antigos, mostrando maior semelhança do H. floresiensis com Australopithecus sediba, Homo habilis e o Homo erectus de Dmanisi, levantando a possibilidade de que os ancestrais de Homo floresiensis deixaram a África antes da aparição de Homo erectus, possivelmente se tornando os primeiros hominíneos a evoluírem mais na Ásia (Dembo et al, 2015).

O resultado dos dados estudados por Lyras et al, (2009) sugerem então, que H. floresiensis é uma relíquia evolucionária distante de uma linhagem hominínea precoce (de aproximadamente 1,75 milhão de anos) proveniente de uma migração até então desconhecida da África, não derivada, anterior ao H. erectus ou H. sapiens. Considerando as diversas características primitivas presentes no Homo floresiensis, sugere-se que muitos caracteres eram mais primitivos do que os encontrados em Homo erectus. Portanto, a chance de que um hominíneo como o H. erectus (com características derivadas, apomorfias) regresse evolutivamente a características primitivas é muito improvável. Por fim, Lyras et al, (2009) realizaram uma análise de componentes principais de uma réplica digitalizada do crânio de LB1 e de moldes cranianos de H. erectus, Homo habilis e Australopithecus africanus e seus resultados mostraram que o H. floresiensis agrupava-se estatisticamente melhor com os H. habilis, o que gerou suspeitas interessantes.

Atualmente, o trabalho de Debbie Argue (2017) trouxe novas análises parcimoniosas, filogenética Bayesiana e testou as hipóteses concorrentes para a origem a partir de H. eretus ou de H. habilis. A linhagem de H. habilis se aproximou mais de H. floresiensis. (Veja mais aqui)

Em conclusão, o H. floresiensis não tinha somente 12 mil anos (sua datação foi revista de acordo com novos fósseis) e seu nanismo parece não ser insular, tendo ele como ancestral comum o H. habilis. Longe de ser uma fraude, o H. floresiensis é rico em detalhes e em seu relacionamento filogenético.

Macaco da África Oriental:

“Também conhecido como Zinjanthropus. Foi encontrado por Louis S.B. Leakey em Olduvai, Zâmbia, em 1959. A descoberta consistiu de uma parte d o crânio e uns fragmentos de ossos”.

O primeiro fóssil deste grupo foi descoberto em um sítio arqueológico rico, em Olduvai Gorge (Tanzânia) em 1959. Foi datado de 1,75 milhão de anos e tinha características distintivas dos australopithecineos em geral. Mary e seu marido, Louis Leakey, descobridores dos fósseis classificaram o animal como Zinjanthropus boisei. O termo “Zinj” para a região medieval oriental de Zanj e o epíteto “boisei” é uma homenagem a Charles Boise, que contribuiu financeiramente para a pesquisa. Posteriormente recebeu a classificação de Paranthropus boisei.

Nesta espécie, o forame magno é muito mais curto do que o de outra espécie do mesmo gênero: P. robustus. Ele tinha um crânio altamente especializado para mastigação rígida e alguns traços comparáveis aos encontrados em gorilas modernos. Os dentes molares eram muito grandes, com uma área superior a encontrada nos humanos modernos (McHenry et al, 2000). Os membros deste grupo não estão relacionados a origem de nossa espécie.

O crânio parcial (KNM ER 406) descoberto por Richard Leakey em 1969, apresenta grandes arcos zigomáticos e uma capacidade craniana de 510 cm3 e foi datado em 1,7 milhões de anos. O crânio parcial KNM WT 17000 apresentava características semelhantes as pertencentes ao Paranthropus aethiopicus, e foi encontrado no Ocidente Turkana (Quênia) e datado em 1,7 milhões de anos atrás. A mandíbula de Peninj é bem preservada, encontrado por Kamoya Kimeu no Lago Natron região, perto do rio Peninj (Tanzânia) e datada em 1,5 milhões de anos atrás. Portanto, há várias evidências sobre a anatomia deste hominíneo o que mostra que não são fraudulentos, e com relações filogenéticas bem estabelecidas (Virginia, 2011).

Conclusão

Notamos uma profunda tentativa de estruturar como “fraude” uma série de achados paleoantropológicos legítimos e de grande importância para a biologia e na busca de nossas origens. Desconsiderando os erros gramáticas, há um discurso de que toda a teoria da evolução é fundamentada em fraudes e fósseis intencionalmente forjados – o que não é verdade.

Um único caso confere legitimamente uma fraude – o caso Piltdown – que foi descoberto pelos cientistas que encontram o autor da fraude e possivelmente o idealizador da fraude, que adotava uma postura teológica.

O autor desconsidera as rudimentares técnicas de investigação cientistas dos séculos passados e acusa todas as suas pontuações como fraudulentas quando a maioria delas confere simplesmente incertezas quanto ao posicionamento dos fósseis na filogenia humana. Muitas destas controversas taxonômicas foram resolvidos e outras sequer existiam e não eram fraudulentas.

Sugere-se a consulta a artigos científicos indexados e revisados por pares quando acusações de fraude científica são erguidas por indivíduos guiados por um profundo viés anti-ciência e negacionista da teoria da evolução; e a consulta de artigos quando uma afirmação de conteúdo suspeito se apresenta como científica validada. Esta sugestão visa desenvolver o espirito critico científico, o ceticismo quanto as fontes e um critério metodológico de verificação da procedência da informação uma vez que muitos falsos conceitos e afirmações vem sendo enredadas e veiculadas em meios midiáticos, como redes sociais, sem qualquer tipo de controle e responsabilização quando se trata de divulgação de falsa ciência.

Victor Rossetti

Palavras chave: NetNature, Rossetti, Homem de Nebraska, Homem de Java, Anthropopithecus, Pithecanthropus erectus, Homo erectus, Sinanthropus pekinensis, Homo habilis, Neandertal, Cro-Magnon, Piltdown, Dawson, Teilhard de Chardin, Ramapithecus, Homo rudolfensis, Zinjanthropus boisei, Paranthropus.

 

Referências

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1 thoughts on “SOBRE AS SUPOSTAS FRAUDES NA EVOLUÇÃO HUMANA – HOMINÍNEOS.

  1. Vamos a primeira contradição – Além do autor, NENHUM outro cientista afirmou que o Homem de Nebraska era um ancestral humano. Alguns cientistas, incluindo Henry Fairfield Osborn (1922) – paleontólogo e presidente do Museu Americano de História Natural – IDENTIFICARAM o dente (que era de porco) como pertencente a um primata avançado. Isso pra mim é uma AFIRMAÇÃO.
    Segundo problema, as 330 perguntas ciacionistas respondida por seu amigo, não foram respondidas de forma satisfatorias. Vou te citar apenas um dos erros de seu querido amigo, que disse ter respondido 300 dessas perguntas… a pergunta foi a 02 – Cite apenas UM exemplo inequívoco de formação de uma nova espécie mediante o acúmulo de mutações. Ele respondeu que: A troca de uma única letra do DNA em um único gene do papa-moscas-monarca (Monarcha castaneiventris) bastou para que populações de aves de duas ilhas vizinhas parassem de se reconhecer como membros de um mesmo grupo e de se acasalar umas com as outras. Primeiro erro, dizer que por que uma ave mudou a cor da sua pena, comprova a evolução. O autor confunde evolução das especies com adaptação das especies. Ele continou dizendo que isso bastou para pôr os papa-moscas no rumo do isolamento reprodutivo, marca registrada da especiação. O que isolamento tem haver com evolução? Não vou aqui fazer outras citações vou apenas resumir. Evolução trata-se de uma especie se tornar outra, não importa qual teoria que você use, se é a darwiniana ou qualquer outra, uma bacteria se tornar uma bacteria não faz disso uma evolução, faz disso uma adaptação assim como passaros que trocam de pele, mudam seu tamanho, tornam seus bicos largos e outros finos, achatados ou longo, não faz disso evolução mas adaptação ao clica e a comida. Se o lugar é muito alto, alto, mediano, baixo ou muito baixo, isso influenciará na cor de penas, pele, escamas, carne, e qualquer outra caracteristicas das especies. Mas um equino, continuará equino, um canino continuará canico, um felino, continuará felino, e isso prova que o rapaz foi no minimo leviando em dizer que respondeu as perguntas ou no pior das hipoteses, crente devoto de uma ciencia moderna voltada ao dogmatismo cientifico e não aos fatos. O fato é que um felino nunca será ou foi um canino, assim como qualquer outra especie jamais deixará de ser de sua propria especie.

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